Visto no Jornal de Brasília
Ludmila Rocha
A união entre duas pessoas do mesmo sexo ganha notoriedade na dramaturgia, que retrata o amor, mas também o preconceito que os casais precisam superar para estarem juntos. É a arte, mais uma vez, imitando a vida. No DF, os cartórios de Registro Civil realizaram 245 matrimônios entre homossexuais desde maio de 2013, quando a união entre gays foi legalizada no País. O dado é da Associação de Notários e Registradores do Brasil (Anoreg).
No Cartório do 2º Ofício de Brasília, campeão na realização de casamentos homoafetivos entre os cartórios pesquisados, não há dados sobre o número exato de uniões. “Para isso, teríamos que olhar livro por livro. Mas tem aumentado”, garante um funcionário. Ali, homens, na faixa dos 50 anos, são os que mais procuram oficializar os relacionamentos.
O 6º Cartório de Registro Civil, Títulos e Documentos e Pessoas Jurídicas do DF, em Samambaia, por sua vez, fez apenas dois casamentos.
Para o psicólogo Luiz Flávio Mendes, a diferença numérica entre um cartório e o outro pode ser explicada pela distância entre as cidades e o Plano Piloto e pela indisponibilidade de cartórios em cada uma das regiões.
“A burocracia acaba fazendo com que os casais optem por se casar perto do trabalho, onde poderão providenciar os trâmites com mais facilidade”, explica. Mendes também acredita que alguns escolhem lugares mais distantes de casa. “Eles querem algo mais íntimo, restrito a família e amigos, evitando comentários e talvez julgamentos”.
Altar na Esplanada
A quantidade de uniões homoafetivas oficializadas no Distrito Federal vai aumentar em breve. Isso porque, dentro de pouco mais de um mês, no dia 28 de junho deste ano, acontecerá o primeiro casamento coletivo gay da cidade. O evento será realizado no Dia Internacional do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) e abrirá a parada gay.
O local escolhido para a cerimônia tem cunho político: a avenida Alameda dos Estados, via em frente ao Congresso Nacional, que exibe as bandeiras de todas as unidades da Federação.
Cerimonial especializado
Ativistas LGBT da capital estão à frente da organização do evento e contam com uma equipe de cerimonial voluntária, a Toujours, que se apresenta como a primeira empresa especializada em casamentos gay da Região Centro- Oeste.
No dia da festa, os casais participantes ganharão maquiagem, trajes e fotografia, oferecidos por empresas conveniadas ao cerimonial. Os noivos terão direito a convidar dois casais de padrinhos.
Sonho está prestes a se realizar
Segundo a empresa de cerimonial Toujours, ao contrário do levantamento dos cartórios, quem mais procura pelos serviços do estabelecimento são mulheres, na faixa dos 25 a 30 anos. “Há mais mulheres do que homens inscritos no casamento coletivo. Além disso, verificamos, por meio de uma pesquisa de mercado, que elas também acessam mais a nossa página”, informa o cerimonial.
A operadora de caixa Elisângela Aparecida, de 27 anos, e a estudante Mariana de Brito, 24, formam um dos casais que participarão do 1º casamento gay do DF. Juntas há um ano e meio e dividindo apartamento há oito meses, elas sempre quiseram se casar. “Tenho o sonho de entrar na igreja de véu e grinalda”, admite Elisângela. “Acho importante casar no papel, com tudo certinho. Mas, se fosse para pagarmos do próprio bolso, não teríamos condições”, completa Mariana.
Contato pela internet
Antes disso, no entanto, o casal - que se conheceu pela internet - teve de abrir mão de muitas coisas para ficar junto. “Eu morava em São Paulo (SP) e a Mari foi passar dez dias comigo. Depois de conhecê-la, larguei tudo e vim a Brasília. Minha família não apoia nosso relaciona mento e meus amigos me chamaram de louca, mas não me arrependo”, conta Elisângela, que, só após um mês na capital, arrumou o emprego em uma padaria.
Em princípio, ela trouxe o filho de cinco anos, fruto da relação com o ex-noivo. “Ele morou conosco por um ano até que um dia minha mãe veio nos visitar, disse que levaria ele para passear no shopping e o levou de volta para São Paulo. Ainda tentei buscá-lo, mas, como a família inteira está lá, inclusive o pai dele, ele preferiu ficar”, diz.
Já a família de Mariana é favorável à união. “Meu pai será nosso padrinho de casamento”, afirma.
Reação apoiada pela família
A servidora pública Camila Lopes de Mello, de 32 anos – o último nome herdado da esposa -, se casou com a contadora Ana Paula Figueiredo de Mello, 34 anos, logo após a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, em junho de 2013.
Assim como Mariana e Elisângela, as duas se conheceram na internet, quando ainda moravam no Rio de Janeiro (RJ), em 2007. “Pouco tempo depois, fomos morar juntas. Quisemos oficializar a união pelos mesmos motivos de qualquer casal”, diz Camila, que afirma que as duas nunca foram vítimas de preconceito. “Nossos amigos e familiares sempre aceitaram bem a nossa união”.
Quando se conheceram, Ana Paula já tinha um filho de quatro anos, o Matheus, hoje com 11 anos de idade. “Ele também me chama de mãe. Tudo sobre a nossa relação sempre foi aberto para ele e, felizmente, muito bem resolvido entre nós”, conclui Camila.
Casamentos no país
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2013, a cada mil casamentos heterossexuais, houve três uniões civis entre pessoas do mesmo sexo. A maioria ocorreu na Região Sudeste, e quase a metade de todo o País foi registrada em São Paulo. Foi a primeira análise de dados de casamentos gays feita pelo IBGE, divulgada no ano passado.
Idade e gênero
O instituto contabilizou 3.701 casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo, dos quais 52% entre mulheres (1.926) e 48% (1.775) entre homens. Os homens se casaram com 37 anos, em média, e as mulheres, com 35.
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