O deputado Cabo Daciolo (PSOL-RJ)
Dizendo querer permanecer no partido, Daciolo já fez sua defesa junto à Comissão de Ética do Psol, que elaborou um parecer a ser submetido à cúpula partidária com encaminhamento que tende a ser pela expulsão. “A tendência é a Comissão de Ética recomendar a expulsão”, resumiu Luiz Araújo, presidente do PSOL, ao portal Congresso em Foco.
Ao ser informado sobre a provável expulsão da sigla à qual se filiou para disputar as eleições de 2014, Daciolo demonstrou decepção. E, ato contínuo, recorreu à pregação religiosa que tanto lhe indispôs com a militância do Psol. “É mesmo, é? Só Deus mesmo, meu amigo… Só Deus no controle”, resignou-se o deputado, com ar de desalento.
Daciolo garantiu que não vai desistir de “crescer” no Psol. “Eu quero continuar no Psol, crescer no Psol. Vou continuar na luta para permanecer. Quero ver quais são os recursos a que tenho direito para reverter isso aí. Só falei de Deus e me expressei sobre os militares. Eles [da cúpula do Psol] sempre souberam a minha posição”, lamentou o deputado.
Bombeiro militar e evangélico, ele costuma citar o conjunto normativo do próprio Estatuto do Psol para defender sua permanência. Ele garante que o artigo 5º, dispositivo inscrito no capítulo II (“Dos objetivos”), título I (“Do partido, sede, emblema, objetivos e filiação”), ampara sua atuação parlamentar.
“O Partido Socialismo e Liberdade desenvolverá ações com o objetivo de organizar e construir, […], a clareza acerca da necessidade histórica da construção de uma sociedade socialista, com ampla democracia para os trabalhadores, que assegure a liberdade de expressão política, cultural, artística, racial, sexual e religiosa, tal como está expressado no programa partidário”, diz o artigo 5º.
Tendência é a expulsão
O deputado Ivan Valente (Psol-SP) explica que o problema de Daciolo é mesmo a “incompatibilidade” dogmática. O Psol defende o Estado laico e a liberdade de crença.
“Está parecendo que há uma proposta [de expulsão]. O problema dele é a questão política, de incompatibilidade. Ele mexeu com cláusulas importantes, caras ao Psol”, disse Ivan, para quem temas como a laicidade do Estado e a ação da Polícia Militar do Rio de Janeiro pesaram na provável expulsão de Daciolo. Ele citou a defesa feita por Daciolo dos policiais militares presos pelo desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza em 2013. Daciolo chegou a ir à tribuna da Câmara para dizer que os policiais estão presos “por um crime que não cometeram”.
Na avaliação de Daciolo, que é visto como fundamentalista entre os militantes, o Psol age de maneira contraditória, pois sabia de suas ligações religiosas e com os militares quando aceitou sua filiação e o lançou candidato.
Cabo Daciolo
Daciolo fez 39 anos em 30 de março. Vinculado a militares e religiosos, o deputado nega ser reacionário – define-se como “evolucionário” –, garante que frequentaria qualquer tipo de evento religioso, desde que convidado, e avisa que pretende alçar voos mais altos pelo partido. Como ser governador do Rio de Janeiro, por exemplo.
Embora tenha carregado sotaque carioca, o deputado nasceu em Florianópolis (SC) e, graças às funções do pai militar, rodou o país até chegar ao Rio de Janeiro. Ele defende o papel dos militares para fazer do Brasil uma potência, chegou a pregar que um general comande o Ministério da Defesa e tem dito que o país vive uma falsa democracia.
No Facebook, Daciolo resume em um pequeno parágrafo seu status atual: “Sou um dos 14 Bombeiros Militares do Rio de Janeiro EXPULSOS da corporação em fevereiro de 2012, de forma injusta, covarde e ilegal, durante as reivindicações salariais e de melhores condições de trabalho. REINTEGRAÇÃO DOS 14 JÁ!”, registra o deputado em seu perfil, criado em 2013. Ele se refere à greve dos bombeiros que liderou em 2011 no Rio de Janeiro, quando passou a interessar ao Psol politicamente.
Congresso em Foco
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