Venho acompanhando de longe, os acontecimentos que estão ocorrendo no município de Barcarena, localizado a 300 quilômetros da capital Belém, onde no último dia 06, no Porto de Vila do Conde, no referido município, o navio Haidar, de bandeira libanesa, foi a pique com mais de 4900 cabeças de gado a bordo.
Até o momento as causas dessa tragédia ainda são desconhecidas, sendo permeadas por muitas especulações. O embarque do boi vivo tornou-se uma importante modalidade econômica, tendo significativo peso na balança comercial paraense. Antes, o embarque ocorria exclusivamente pelo Porto de Belém, mas por diversas ações dos poderes públicos, foi transferida para Vila do Conde, tecnicamente justificado pelo calado (profundidade), o maior entre os portos que a CDP (Companhia Docas do Pará) administra em solo paraense.
O município de Barcarena até a década de 1980, se resumia economicamente na agricultura e pesca. No referido período iniciaram os processos industriais com a chegada da Albras (Empresa inicialmente de capital japonês e que verticalizava a cadeia mineral, transformando alumina em alumínio) e depois com a chegada da Alunorte, fechando a cadeia de produção da bauxita (industrialmente, em etapa anterior ao alumínio). Em seguida outras empresas foram se instalando no município, como a Cadam e a Imerys, responsáveis na produção industrial do caulim.
Seguindo o rito “desenvolvimentista”, Barcarena, assim como outros exemplos, sofreu grandes intervenções urbanísticas para abrigar esses projetos. Foi erguido pela Albras/Alunorte, Vila dos Cabanos, uma cidade planejada, para abrigar os empregados das referidas empresas, especialmente as grandes da cadeia da bauxita. Hoje, a cidade não passa de um esbouço do que foi planejado, sendo hoje um espaço sem controle por parte das empresas, apresentando acelerado processo de sucateamento.
Barcarena coleciona diversas tragédias ambientais e que por inercia, tornaram-se sociais também. As empresas citadas, sem exceção, já se envolveram em problemas ambientais, especialmente, no que se refere a vazamentos de materiais, especialmente o caulim para os cursos d’águas da região, quase todos contaminados com resíduos.
As antigas cadeias produtivas do município, especialmente a pesca, meio de sobrevivência das populações ribeirinhas, foram quase exterminadas por esses problemas ambientais. Nos últimos anos o modelo de desenvolvimento pensando e implementado em Barcarena se esgotou. Espraiou pobreza, cristalizadas em bairros sem infraestrutura alguma, criando bolsões de miséria pela cidade. Os empregos ficaram escassos, os problemas ambientais e sociais aumentaram consideravelmente.
Entre todos os problemas ambientais, nada se compara com o ocorrido com o navio Haidar, no Porto de Vila do Conde. Os impactos da tragédia não são sabidos e a magnitude do sinistro ainda são imensuráveis e deverão durar por meses. As diversas autoridades envolvidas no caso parecem não se entender, vão a pique (assim como o navio) por conta das vaidades institucionais que parecem travar o processo. Gabinete de gerenciamento de crise instalado pela CDP em Vila do Conde, sob a coordenação da Marinha do Brasil e da Defesa Civil do Estado do Pará, do qual fazem parte a SEMAS, a Secretaria de Meio Ambiente do município de Barcarena, o IBAMA, a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros, o Ministério da Agricultura, a Adepará e a Anvisa, além de órgãos observadores, mas parecem em conjunto criar pouco retorno prático para tal situação.
Enquanto os diversos órgãos buscam se entender e trilhar um caminho de ação prática para atenuar os problemas, a população de Barcarena continua pagando uma conta muito cara, emitida pelo modelo de desenvolvimento, sempre com grande ônus socioambiental, e com questionáveis retornos positivos nas regiões de implantação desses projetos. De exemplo em exemplo, assim continua caminhando a Amazônia.
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