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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Comer insetos para acabar com a fome?

Comer insetos para acabar com a fome?

Segundo a FAO, atualmente, cultiva-se o suficiente para alimentar 12 bilhões de pessoas, e no planeta somos 7 bilhões. Há comida. O problema é: em mãos de quem está a comida?

21/05/2013

Esther Vivas

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicou na semana passada um relatório que causou certo alvoroço: “Insectos comestibles. Perspectivas de futuro para la seguridad alimentaria y la alimentación”, onde recomenda o consumo de insetos para dar de comer a um número cada vez maior de pessoas. Porém, acabar com a fome no mundo passa por começar a consumir insetos ou tornar accessível a comida às pessoas? Acho mais plausível a segunda opção.
Não tenho nada contra o consumo de "bichos”, o que, em outras latitudes está plenamente aceito. Segundo a FAO, hoje no planeta pelo menos dois milhões de pessoas ingerem regularmente escaravelhos, lagartas, abelhas, formigas, gafanhotos, lesmas e um longo etcétera. Um total de 1.900 espécies que são comidas na África, na Ásia e também na América Latina. E, segundo o mencionado relatório, têm alto conteúdo proteico, matérias graxas e minerais. Porém, para nós, a ideia de levá-los à boca nos produz nojo.
Os debates que, atualmente, giram ao redor da proposta da FAO em meios de comunicação diversos são feitos com clara visão etnocêntrica do que comemos, associando o consumo de insetos a um comportamento primitivo, como se nós tivéssemos a verdade absoluta sobre o que se pode e não se pode comer. Me pergunto: O que pensarão em outros países dos caramujos ao molho, do coelho assado, da paella, coelho com caramujos...? Creio que mais de um centro europeu não aguentaria nem dois minutos na mesa, imaginando seu coelho mascote cozido como bisteca e rodeado de moluscos babosos.
Porém, além das considerações culturais, creio que o problema da fome tem que ser abordado a partir de outra perspectiva. Não se trata, como solução mágica, de apostar na ingestão de insetos, independentemente de suas qualidades nutritivas, mas o nó da questão está em perguntar-nos como, em um mundo da abundância de alimentos, há tantas pessoas que não têm o que comer? Hoje, o problema da fome não reside na produção, mas na distribuição. Não se trata de produzir mais, ou de buscar novos produtos para comer; mas, de distribuir os que já existem e torná-los accessíveis a todos.
Segundo a FAO, atualmente, cultiva-se o suficiente para alimentar 12 bilhões de pessoas, e no planeta somos 7 bilhões. Há comida. O problema é: em mãos de quem está a comida? Os alimentos converteram-se em um instrumento de negócio por parte de umas poucas multinacionais da agroindústria que priorizam seus interesses empresariais em detrimento das necessidades alimentares das pessoas. Dessa forma, se não tens dinheiro para pagar o preço cada dia mais caro da comida ou acesso aos meios de produção, como terra, água e sementes, não comes.
Acabar com a fome passa por exigir justiça e democracia nas políticas agrícolas e alimentares. E devolver aos povos a soberania alimentar, a capacidade de decidir sobre o que e como produzir, distribuir e consumir. Antepor direitos a privilégios. E apostar em outro modelo de agricultura e alimentação: de proximidade, camponesa, agroecológica... Somente assim todo mundo poderá comer.

Esther Vivas é autora do livro “Do campo ao prato. Os circuitos de produção e distribuição de alimentos”.
Tradução: Adital

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ESSA VERDADE NÃO É DITA...

SEM DÚVIDA NENHUMA ESSA VERDADE NÃO É DITA, E É ESSE TIPO DE TEXTO JORNALISTICO QUE PRECISA SER CRIADO E ESPALHADO, VER A REALIDADE ATRAVES DE OUTRO PARADIGMA É A NOSSA ÚNICA SOLUÇÃO... Sois Grato

COMER INSETOS PARA ACABAR COM A FOME

Do campo ao descarte (lixo)! 50% do que é produzido é desperdiçado. Inclusive, há o desperdício do desperdiçado! Nada deste material torna ao campo como fertilizante na forma de composto orgânico.Um bilhão de famintos X um bilhão de obesos, aí temos uma ideia do desequilíbrio alimentar.Mas enfim, creio que comer insetos é uma "solução" distante, espero! A questão como o texto bem diz é mercantilista, alimento é mercadoria, isto é posto e claro, logo, estamos falando de U$, argumento que, infelizmente, supera a morte de milhares de seres.Mas e a água?!? Sem esta, mesmo que não exista fome, não há como produzir alimentos. O problema é mais sério ainda.Aproveitemos, enquanto "está bom"! 

PREDADORES E VÍTIMAS...

Como sempre: alimentação decente aos olhos, só para os abastados. No Brasil, felizmente, só 1% se alimentam também de escaravelhos, ROLA-BOSTAS, calunistas amestrados... Lembro que no auge da indústria da seca no Nordeste do Brasil, as pequenas cestas básicas continham três rolos de papel higiênicos...Tripudiavam sem dó nem piedade cristã católica nos feudos do padim Ciço santos dos coronéis de patentes negociadas com o voto e a miséria de milhões...Ganharam o troco.  

QUEM SOU EU PARA CONTESTAR OS

Quem sou eu para contestar os números da FAO. Se ela afirma que a quantidade de alimentos produzidos seriam suficientes para alimentar 12 bilhões de seres humanos, então.... Ocorre apenas um porém que sempre advém ao lançarmos mão de um único dado. A quantidade de alimentos produzidos daria para alimentar 12 bilhões de pessoas. Esse é o dado bruto e incontestável. Entretanto, a pergunta cabível seria: os ecossistemas terrestres são suficientemente resistentes para suportarem que se produzam essa quantidade enorme de alimentos? Daqui a 40 anos, o planeta Terra continuará sendo capaz de produzir  alimentos suficientes para alimentar 12 bilhões de pessoas, ou será capaz de produzir mais alimentos ainda ou ,então, a outra hipótese possível, essa capacidade terá decaído, por conta de impactos na biosfera que a converteriam menos produtiva? Entre os alimentos relacionados pela FAO se encontram aqueles que se contam entre as comodities? Acho que há necessidade de uma dupla discussão em que ambos os enfoques são igualmente importantes. Primeiro, independentemente da capacidade de se alimentar a humanidade inteira que admitimos, isso jamais constituirá um fato em um mundo capitalista. Esqueçam! Esse dado só serve para realçar as injustiças desse sistema. Por outro lado, o planeta Terra reclama que os métodos de produção de alimentos colocados em prática sejam revistos e substituídos por outros que teriam, dado o atual estágio de desenvolvimento do conhecimento humano, duas consequências. A primeira, negativa face à quantidade absoluta de alimentos produzidos, posto que não seria mais capaz de alimentar 12 bilhões de alimentos, mas provavelmente seria capaz de alimentar 8, talvez, 9 bilhões de pessoas com folga. A segunda consequência, positiva, posto que reconverteria o sistema de produção de alimentos em um processo auto-sustentável, em equilíbrio com os ecossistemas terrestres.  Para que isso ocorra, há que se mexer nos hábitos culturais humanos relacionados à sua forma de escolher os alimentos. A pecuária, deveria ficar restrita à produção de leite, erradicando-se a produção de carne, dado à baixíssima produtividade de alimentos que essa representa. Há uma continha que diz que uma área que produz carne suficiente para alimentar um único ser humano, se fosse substituída ,por exemplo, pela produção de soja, alimentaria 24 homens.  Insetos são fontes riquíssimas de proteínas, sendo a criação de insetos ( uma verdadeira "insetocultura" ) algo de baixíssimo custo e impacto ecológico, quando comparado com a própria piscicultura, que,até onde eu sei , é a fonte de produção de proteína menos impactante sobre o meio ambiente. Imagine a conversão de uma nuvem de gafanhotos encarada como uma praga em alimento, com esquemas de captura desses animais com armadilhas apropriadamente desenvolvidas em lavouras agora plantadas com o propósito inusitado de atraí-los, despreocupados de se proteger das investidas dos ataques dos mesmos. Penso que, desse modo, seria interessante que se discutisse o problema sobre esse o enfoque da produção dos alimentos a partir de uma distribuição democrática, humanista e socialista dos mesmos, mas também buscando estabelecer qual a capacidade que o planeta possui de produzir alimentos sustentavelmente, o que não nos é dado conhecer pelo valor da produção total do que se considera como alimentos hoje. Por outro lado, nada impede e tudo aconselha que se reveja , em nome de um melhor relacionamento dos homens com a natureza, os hábitos alimentares, a partir sobretudo da pesquisa de formas de introduzir novas fontes de proteínas animais na alimentação das futuras gerações, de forma obrigatória e necessária e das pessoas das presentes gerações, de forma consciente e facultativa. Sendo assim,que tal um talharim com molho de baratas caseiras enriquecidas com vitaminas do complexo B e omega 6? 

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