sexta-feira, 3 de maio de 2013
Jovem deportado da Arábia Saudita por ser bonito demais, por Nelson Rubens
No final de abril uma notícia invadiu as redes sociais e foi replicada tantas vezes que é pouco provável que você não tenha ouvido falar. Também pudera, a informação era de que um jovem teria sido deportado da Arábia Saudita por ser ‘irresistível’.
A nota, acompanhada de fotos da suposta vítima de sua própria beleza, ganhou rapidamente os principais portais de notícias do Brasil e do mundo. O assunto rendeu tanto que alguns meios chegaram até fazer o que chamamos de ‘suíte’ (requentar uma história), como o jornal que noticiou que jovens estavam dispostas a oferecer ‘asilo’ ao bonitão.
A informação inicial era de que três homens tinham sido deportados da Arábia Saudita porque as autoridades consideraram que eles eram bonitos demais. No entanto, só um deles ‘apareceu’. Trata-se de um jovem identificado como Omar Borkan. Dezenas de fotos bem produzidas do rapaz foram compartilhadas exaustivamente e ilustravam as capas de grandes portais.
Quando encontrei essa história em um site gringo cujo nome não lembro, o texto (traduzido do árabe para o inglês) dizia claramente que Omar era um modelo que aproveitou a repercussão da notícia sobre os homens deportados por serem belos para ganhar fama. Ele teria produzido uma série de fotos com roupas árabes para divulgar na internet com esse fim.
Alguém com síndrome de Nelson Rubens (aquele apresentador da RedeTV dono do famoso bordão ‘eu aumento, mas não invento’) entendeu que Omar era um dos deportados e, diante da beleza do rapaz, replicou a notícia aumentando alguns pontos. A partir daí tudo virou uma bola de neve. Outros sites, blogs e portais compraram a informação e divulgavam as fotos do modelo em suas capas. Para justificar a falta de apuração, citavam o veículo anterior do qual tinha traduzido ou copiado a notícia – o que chamamos de ‘escuta’.
Esse caso provou que uma mentira contada centenas de vezes pode se tornar ‘verdade’. O jornalista Juan Carlos Luján, dono do blog SinPapel, investigou o caso – creio que uma ou duas buscas no Google já resolveriam – e publica a notícia que provavelmente ninguém vai dar: não só Omar não foi deportado da Arábia Saudita por ser irresistível, como isso não aconteceu com mais ninguém.
O próprio Omar nunca falou com a imprensa – nem para confirmar, nem para desmentir a informação. Apenas aproveitou, quietinho, os seus 15 minutos de fama para seguidores no Facebook e, provavelmente, muitas propostas.
O jornalismo se descabela para ganhar em velocidade das redes sociais, mas esquece de vencer no mais importante: a precisão. E assim, o jornalismo mundial aumentou, mas não inventou - ou inventou - vivendo o seu momento mais Nelson Rubens.
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