Por Alceu Luís Castilho publicado no site Jornalistas Livres
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Tragédia em Minas não terá sua “foto de criança síria”; postura das autoridades e da imprensa, até agora, é protocolar, sem empatia com a população atingida.
Há uma história dentro da história do desabamento das barragens em Mariana (MG): a das crianças, tratadas com um descaso protocolar pela imprensa brasileira. Emanuele Vitória Fernandes, de 5 anos, foi encontrada morta a 70 quilômetros de Mariana, e o UOL registra de forma contábil: “Garota de 5 anos é quarta morte confirmada em MG”. Quem era ela? Onde estudava? Lemos apenas – como em uma necrópsia – que a criança foi reconhecida pela família “por conta do cabelo, formato do pé e arcada dentária”.
Quatro crianças entre os 22 moradores e trabalhadores da Samarco ainda estão desaparecidas, conforme a lista divulgada pela prefeitura e pelos Bombeiros. São elas: Thiago Damasceno Santos, de 7 anos; Ana Clara dos Santos Souza, de 4 anos; Mateus Dias Batista, de 5 anos; e Yuri Dias Batista, de 3 meses. (Os dois irmãos desapareceram com a mãe, outra Ana Clara.) Onde elas estão?
Um dos livros-chave para se entender o drama de pessoas desaparecidas no Brasil é “Onde foi que enterraram nossos mortos?”, de Aluizio Palmar (Travessa dos Editores, 2005). Ele trata de seus companheiros assassinados pela ditadura de 1964, com direito a investigação própria sobre o paradeiro de cada um. O livro não é somente sobre a resistência. Mas sobre a busca, a angústia de não se saber onde estão aqueles corpos. Sobre essa dor específica – e dilacerante.
Para onde exatamente a Samarco levou (já que é dela a responsabilidade pela barragem) Ana Clara, Mateus, Yuri e Thiago? E as demais pessoas que não conseguiram escapar da avalanche de resíduos da mineração? A questão não é alimentar esperanças em vão – de vidas que certamente se foram. Mas de oferecer aos familiares a efetiva possibilidade de resgate dos corpos. (Enquanto a lama que soterrou a região, dizem especialistas, vai sendo nada menos que cimentada.)
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