Posted: 29 Jun 2013 08:00 PM PDT
Em
todo o país haverá protesto na final da Copa das Confederações; em São
Paulo, o foco é a desmilitarização da polícia que agride em remoções e
atos públicos.
A final da Copa das Confederações não
será jogada apenas em campo. Fora do gramado do Maracanã, repaginado a
um custo de 1 bilhão de reais para abrigar a elite “com ingresso”, os
comitês populares da Copa – criados para defender os interesses da
população nos megaeventos – preparam manifestações no Brasil inteiro, a
começar pelo Rio de Janeiro, a sede da final Brasil x Espanha.
Ali está prevista uma caminhada saindo da praça Saens Peña, na Tijuca, até o Maracanã, com encerramento na Praça Afonso Pena. As principais reivindicações são a imediata anulação da privatização do Maracanã (reformado com dinheiro público), com a reabertura e reconstrução dos equipamentos públicos em seu entorno – o Parque Aquático Julio Delamare, o Estádio de Atletismo Célio de Barros, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Friedenreich – além da devolução da Aldeia Maracanã, o antigo Museu do Índio, simbolicamente ocupado por representantes de diversas etnias.
Igualmente importante é a reivindicação pelo fim das remoções e despejos em nome da Copa e das Olimpíadas – há 11 mil pessoas que correm o risco de perder suas casas no Rio – com destaque para a permanência e urbanização da Vila Autódromo, ameaçada pela construção do Parque Olímpico, e a regularização fundiária do Horto, encravado no bairro nobre do Jardim Botânico.
“Nós estamos abertos ao diálogo com a presidenta e sempre estivemos abertos ao diálogo com os governantes. Entregamos o Plano Popular da Vila Autódromo ao Eduardo Paes no ano passado e até hoje não tivemos resposta” diz Renato Cosentino, membro da ANCOP (Articulação Nacional dos Comitês Populares).
Em São Paulo, que não faz parte das cidades-sede da Copa das Confederações mas tem sido um dos principais palcos dos protestos que tomaram o país nas últimas semanas, a principal palavra de ordem do Comitê Popular da Copa (SP Copa) é a desmilitarização da Polícia Militar, com ênfase no protesto contra a criminalização e repressão à população decorrente dos megaeventos. Com essas bandeiras, o comitê pretende fazer um ato no domingo às 15h no Vale do Anhangabaú naFan Fest, espaço de eventos públicos onde se realizam os jogos da Copa em São Paulo.
A desmilitarização da PM é uma pauta que “atravessa todas a outras pautas dos movimentos sociais no Brasil” diz Juliana Machado, representante do SP Copa. “As remoções forçadas é a polícia que executa; a perseguição aos ambulantes é a polícia que faz, a população de rua é a polícia que age de maneira truculenta, enfim, a própria repressão aos movimentos sociais” explica.
O Comitê Popular da Copa também lançou um manifesto destacando que “entre 2000 e 2011, foram mais de 4.600 mortos pela PM em São Paulo, considerando apenas as denúncias que chegaram até a Ouvidoria da própria corporação”. E chama a atenção para a expansão dessa violência na onda de protestos do país: já no dia 13 de junho, nas primeiras manifestações, “200 pessoas foram presas e muitas outras feridas – entre elas, 20 jornalistas, com um deles tendo perdido a visão de um olho”.
O que, segundo o manifesto, vai se agravar na Copa 2014. A Força Nacional de Segurança, que reúne polícias militares de diversos estados, esteve presente em 5 das 6 cidades-sede da Copa das Confederações: Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Belo Horizonte e Fortaleza. Daqui a um ano, essas forças ocuparão as 12 cidades-sede da Copa da FIFA “e as notícias de violência nas manifestações que recebemos hoje certamente se repetirão”, afirma.
Lembrando os acontecimentos recentes em Brasília, em que o recrudescimento da repressão policial contra os manifestantes foi anunciado na segunda-feira passada pelo tenente coronel da PM Zilfrank Antero, Juliana Machado diz: “A gente tá percebendo que as forças armadas estão cada vez mais presentes no cotidiano das cidades, qualquer problema político elas são chamadas a intervir. Mas em vez de coibir a violência, a PM faz parte dessa violência”. E acrescenta: “A PM é uma instituição militar e isso faz com que tenha pouco ou nenhum controle externo”. Ou, como afirma o comunicado: “Porque não se trata de maus policiais ou de falta de preparo: é a própria existência de uma polícia com caráter militar, oriunda da ditadura também militar, que tem que ter um fim.”
Perguntada como repercutiu entre o movimento o discurso da presidenta Dilma com promessas de maior investimento em transporte, saúde e educação, plebiscito para reforma política e penas mais duras para corruptos, Juliana responde: “Nenhuma das propostas realiza aquilo que a gente precisa, ela prometeu mais dinheiro pro transporte, mas a gente não sabe se vai ser transporte público mesmo. Ela não disse nada em relação à possibilidade do transporte ser gratuito; também falou sobre um plebiscito que pode ser interessante, mas vai ser necessário esclarecer sobre o que vai ser essa reforma política”.
Sobre a posição do governo nos megaeventos é mais dura: “Com relação às demandas da Copa, a presidente mentiu. Disse que não havia gasto público na Copa, mas só no estádio Mané Garrincha houve mais de 1 bilhão de reais, e o Estado brasileiro está se endividando. A presidente deixou de falar sobre a questão da Copa porque a mídia tradicional não está ouvindo a verdadeira pauta dos movimentos sociais – os ambulantes, as remoções, a violência e o uso das forças militares na segurança desses eventos, a criação de zonas de exclusão em torno dos estádios… A presidente simplesmente não ouviu a voz das ruas”.
Além de Rio de Janeiro e São Paulo, os comitês de Salvador, Porto Alegre, Curitiba e Brasília já têm atividades de protesto programadas para o final da Copa das Confederações. Natal e Belo Horizonte ainda estavam discutindo na sexta-feira eventuais atividades para o domingo. Na capital mineira, após a violência policial durante a semifinal da Copa das Confederações nessa quarta-feira, o Comitê Popular de Atingidos pela Copa (COPAC) propôs uma atividade mais lúdica para o domingo, dia da final da competição. “Vai ter um ato, mas ainda temos que decidir isso na Assembleia Popular Horizontal hoje a noite (sexta-feira)”, diz Amanda Couto, integrante do COPAC.
Na capital gaúcha, o tema central é a luta contra as remoções e está prevista uma caminhada na Avenida Tronco, onde o projeto Corredor Avenida Tronco, ligado à Copa de 2014, ameaça o direito à moradia de 4 mil pessoas, segundo levantamento da Prefeitura de Porto Alegre. Em Curitiba, onde o ato acontece no sábado, as remoções, principalmente da comunidade Nova Costeira, ameaçada pelas obras do aeroporto, também são o foco do protesto. Os moradores não querem sair dali para as unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida, como propõe o poder público. “Os moradores avaliam que as casas do Minha Casa Minha Vida são piores que as casas que eles já tem”, afirma Isabela Cunha, integrante do Comitê.
Em Brasília a manifestação está marcada para às 13h, em frente ao Conjunto Nacional. Entre as pautas dos manifestantes estão: a restituição dos R$ 2,8 milhões gastos na compra de ingressos para a final da Copa das Confederações pela TERRACAP, companhia imobiliária do governo do Distrito Federal; a restituição da verba pública gasta no estádio Mané Garrincha; o fim das remoções; o fim da exploração sexual relacionada ao mundial e a precariedade do transporte público.
A manifestação vem sendo organizada pelo Comitê Popular da Copa no Distrito Federal pelo Facebook.
Ali está prevista uma caminhada saindo da praça Saens Peña, na Tijuca, até o Maracanã, com encerramento na Praça Afonso Pena. As principais reivindicações são a imediata anulação da privatização do Maracanã (reformado com dinheiro público), com a reabertura e reconstrução dos equipamentos públicos em seu entorno – o Parque Aquático Julio Delamare, o Estádio de Atletismo Célio de Barros, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Friedenreich – além da devolução da Aldeia Maracanã, o antigo Museu do Índio, simbolicamente ocupado por representantes de diversas etnias.
Igualmente importante é a reivindicação pelo fim das remoções e despejos em nome da Copa e das Olimpíadas – há 11 mil pessoas que correm o risco de perder suas casas no Rio – com destaque para a permanência e urbanização da Vila Autódromo, ameaçada pela construção do Parque Olímpico, e a regularização fundiária do Horto, encravado no bairro nobre do Jardim Botânico.
“Nós estamos abertos ao diálogo com a presidenta e sempre estivemos abertos ao diálogo com os governantes. Entregamos o Plano Popular da Vila Autódromo ao Eduardo Paes no ano passado e até hoje não tivemos resposta” diz Renato Cosentino, membro da ANCOP (Articulação Nacional dos Comitês Populares).
Em São Paulo, que não faz parte das cidades-sede da Copa das Confederações mas tem sido um dos principais palcos dos protestos que tomaram o país nas últimas semanas, a principal palavra de ordem do Comitê Popular da Copa (SP Copa) é a desmilitarização da Polícia Militar, com ênfase no protesto contra a criminalização e repressão à população decorrente dos megaeventos. Com essas bandeiras, o comitê pretende fazer um ato no domingo às 15h no Vale do Anhangabaú naFan Fest, espaço de eventos públicos onde se realizam os jogos da Copa em São Paulo.
A desmilitarização da PM é uma pauta que “atravessa todas a outras pautas dos movimentos sociais no Brasil” diz Juliana Machado, representante do SP Copa. “As remoções forçadas é a polícia que executa; a perseguição aos ambulantes é a polícia que faz, a população de rua é a polícia que age de maneira truculenta, enfim, a própria repressão aos movimentos sociais” explica.
O Comitê Popular da Copa também lançou um manifesto destacando que “entre 2000 e 2011, foram mais de 4.600 mortos pela PM em São Paulo, considerando apenas as denúncias que chegaram até a Ouvidoria da própria corporação”. E chama a atenção para a expansão dessa violência na onda de protestos do país: já no dia 13 de junho, nas primeiras manifestações, “200 pessoas foram presas e muitas outras feridas – entre elas, 20 jornalistas, com um deles tendo perdido a visão de um olho”.
O que, segundo o manifesto, vai se agravar na Copa 2014. A Força Nacional de Segurança, que reúne polícias militares de diversos estados, esteve presente em 5 das 6 cidades-sede da Copa das Confederações: Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Belo Horizonte e Fortaleza. Daqui a um ano, essas forças ocuparão as 12 cidades-sede da Copa da FIFA “e as notícias de violência nas manifestações que recebemos hoje certamente se repetirão”, afirma.
Lembrando os acontecimentos recentes em Brasília, em que o recrudescimento da repressão policial contra os manifestantes foi anunciado na segunda-feira passada pelo tenente coronel da PM Zilfrank Antero, Juliana Machado diz: “A gente tá percebendo que as forças armadas estão cada vez mais presentes no cotidiano das cidades, qualquer problema político elas são chamadas a intervir. Mas em vez de coibir a violência, a PM faz parte dessa violência”. E acrescenta: “A PM é uma instituição militar e isso faz com que tenha pouco ou nenhum controle externo”. Ou, como afirma o comunicado: “Porque não se trata de maus policiais ou de falta de preparo: é a própria existência de uma polícia com caráter militar, oriunda da ditadura também militar, que tem que ter um fim.”
Não somos contra o futebol
Criados a partir de 2010, os comitês populares estão presentes nas 12 cidades-sede da Copa 2014. E fazem questão de dizer: eles não são contra a Copa do Mundo e menos ainda contra o futebol. “Para nós o problema maior é que o Estado está se endividando mas não são os setores sociais que estão recebendo os benefícios”, enfatiza Juliana. Por isso o Comitê Popular de São Paulo incluiu uma bola e uma rede para jogar futebol durante o ato de domingo: a brincadeira é tentar pegar o goleiro vestido de PM de surpresa, chutar a bola e marcar um gol para o povo.Perguntada como repercutiu entre o movimento o discurso da presidenta Dilma com promessas de maior investimento em transporte, saúde e educação, plebiscito para reforma política e penas mais duras para corruptos, Juliana responde: “Nenhuma das propostas realiza aquilo que a gente precisa, ela prometeu mais dinheiro pro transporte, mas a gente não sabe se vai ser transporte público mesmo. Ela não disse nada em relação à possibilidade do transporte ser gratuito; também falou sobre um plebiscito que pode ser interessante, mas vai ser necessário esclarecer sobre o que vai ser essa reforma política”.
Sobre a posição do governo nos megaeventos é mais dura: “Com relação às demandas da Copa, a presidente mentiu. Disse que não havia gasto público na Copa, mas só no estádio Mané Garrincha houve mais de 1 bilhão de reais, e o Estado brasileiro está se endividando. A presidente deixou de falar sobre a questão da Copa porque a mídia tradicional não está ouvindo a verdadeira pauta dos movimentos sociais – os ambulantes, as remoções, a violência e o uso das forças militares na segurança desses eventos, a criação de zonas de exclusão em torno dos estádios… A presidente simplesmente não ouviu a voz das ruas”.
Além de Rio de Janeiro e São Paulo, os comitês de Salvador, Porto Alegre, Curitiba e Brasília já têm atividades de protesto programadas para o final da Copa das Confederações. Natal e Belo Horizonte ainda estavam discutindo na sexta-feira eventuais atividades para o domingo. Na capital mineira, após a violência policial durante a semifinal da Copa das Confederações nessa quarta-feira, o Comitê Popular de Atingidos pela Copa (COPAC) propôs uma atividade mais lúdica para o domingo, dia da final da competição. “Vai ter um ato, mas ainda temos que decidir isso na Assembleia Popular Horizontal hoje a noite (sexta-feira)”, diz Amanda Couto, integrante do COPAC.
Remoções, expulsões de ambulantes, gasto público: bandeiras do domingo
Em Salvador, onde ocorre a disputa pelo 3o e 4o lugar, a manifestação seguirá até o estádio Fonte Nova reivindicando transparência nos gastos públicos, legado das obras para a população, liberdade e expressão e trabalho para os ambulantes (com destaque para as baianas do acarajé) e denunciando a “higienização do centro de Salvador”, que segundo o Comitês, tem expulsado moradores de rua e prostitutas.Na capital gaúcha, o tema central é a luta contra as remoções e está prevista uma caminhada na Avenida Tronco, onde o projeto Corredor Avenida Tronco, ligado à Copa de 2014, ameaça o direito à moradia de 4 mil pessoas, segundo levantamento da Prefeitura de Porto Alegre. Em Curitiba, onde o ato acontece no sábado, as remoções, principalmente da comunidade Nova Costeira, ameaçada pelas obras do aeroporto, também são o foco do protesto. Os moradores não querem sair dali para as unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida, como propõe o poder público. “Os moradores avaliam que as casas do Minha Casa Minha Vida são piores que as casas que eles já tem”, afirma Isabela Cunha, integrante do Comitê.
Em Brasília a manifestação está marcada para às 13h, em frente ao Conjunto Nacional. Entre as pautas dos manifestantes estão: a restituição dos R$ 2,8 milhões gastos na compra de ingressos para a final da Copa das Confederações pela TERRACAP, companhia imobiliária do governo do Distrito Federal; a restituição da verba pública gasta no estádio Mané Garrincha; o fim das remoções; o fim da exploração sexual relacionada ao mundial e a precariedade do transporte público.
A manifestação vem sendo organizada pelo Comitê Popular da Copa no Distrito Federal pelo Facebook.
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