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sexta-feira, 28 de junho de 2013

BRASIL JÁ PRODUZIU "BRASILEIROS" MELHORES!!!

“No, I’m not going to the world cup” – A desconstrução de uma fraude

A brasileira (?) Carla Dauden teve seus 15 dias de fama virtual graças à realização de um vídeo de boicote à Copa do Mundo do Brasil.
Sabem os profissionais da TV, da Publicidade, do Marketing, das Operações Psicológicas (Psy Ops), entre outros, que uma mensagem aumenta bastante seu potencial de convencimento se ela é transmitida de maneira atraente, por uma pessoa bonita, bem vestida e pertencente à mesma faixa etária do seu público-alvo.
Melhor ainda se essa pessoa tem voz agradável, expressa-se com aparente naturalidade, e parece compartilhar valores com quem pretende convencer. Ajuda bastante quando a mensagem vem de um país tido como mais evoluído porque a aura de superioridade se transfere para o conteúdo da fala.
Vamos ao vídeo.
1. O artifício de afirmação da autoridade de quem emite a mensagem.
Logo no início, Carla afirma: “Um dos motivos que me levou (sic) a fazer esse (sic) vídeo, (sic) é que toda vez que eu falo pra alguém que eu sou do Brasil, alguém do grupo diz que vai pra copa do mundo (sic)”.
Hum… isso é bom. Só que não.
Carla faz cara de zangada, olhando fixamente para o espectador durante alguns segundos, artifício emocional utilizado para estabelecer sua autoridade sobre o restante da mensagem. A intimidação visual é recurso clássico de submissão do adversário, no reino animal. Quando gorilas batem várias vezes no próprio peito, quando cães arreganham os dentes, quando o professor olha fixamente para o aluno, a reação do alvo é instintiva porque entra em jogo o instinto de proteção ou de sobrevivência.
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Quem gostaria de ser rejeitado por uma belezura dessas?
A relação entre intimidador e intimidado se dá no nível mais primitivo, biológico, do organismo. Nos seres humanos, esse nível corresponde às camadas mais arcaicas do nosso cérebro, o “cérebro ou complexo reptiliano”, ou a parte “animal” deste órgão.
O olhar fixo e intimidador (“uma ferramente muito poderosa de intimidação, mesmo em adultos”) é estudado em livros sobre as técnicas da influência e em sites de linguagem corporal.
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Como você reage a um olhar direto, silencioso e reprovador, mantido por vários segundos? Instintivamente, reconhece que a situação é perigosa e que ali está uma autoridade, um poder que não quer ou deve ser contrariado.
Qual é a imagem que se vê, parada, na apresentação imediata do vídeo?
Agora pense bem. Que coisa horrível, não? Alguém querer visitar o Brasil, gastar o seu dinheiro aqui, encantar-se com nosso povo e nossos costumes, vibrar com a Copa, voltar ao país natal e recomendar aos parentes, amigos e colegas que façam turismo em nossas terras…
2. A montagem das respostas à pergunta sobre a identidade social do Brasil.
A seguir, Carla afirma que foi às ruas entrevistar americanos para saber o que lhes vinha à mente quando pensavam sobre o Brasil. Repare nas pessoas consultadas por Carla.
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Seis pessoas. Com sinceridade, você vê nessas imagens algum americano típico? É possível, objetivamente, extrair uma média da opinião do norte-americano sobre o Brasil, a partir desses seis indivíduos? Assista novamente a esse trecho e perceba como ele poderia fazer parte, não de um vídeo sério, mas de um vídeo cômico.
A propósito, Carla, procure conhecer a falácia da amostra não representativa. Vai bater um “já vi isso antes”. Ou “já fiz isso antes”, melhor dizendo.
Repare também, leitor(a), como esses clichês de resposta combinam com a batucada que acompanhou o olhar intimidador de Carla. Esta técnica, também clássica, é chamada priming, e consiste na criação de uma predisposição psicológica. Ao associar nosso país à batucada do samba, no momento anterior, Carla tornou mais críveis as respostas selecionadas de seus entrevistados. Em literatura, a técnica denomina-se foreshadowing(“prenúncio”, ou antecipação de conteúdo).
Nesse trecho, Carla utilizou ainda uma das técnicas mais primárias de convencimento visual: a montagem de respostas cuidadosamente selecionadas, obtidas de uma amostra mínima de um todo. Se você já assistiu a algum programa eleitoral, sabe do que estou falando.
(Detalhe: ela é diretora de cinema e fotografia.)
Por que Carla não fez a mesma pergunta a seus colegas de estudo ou trabalho, mais bem informados que essa amostra “contaminada”? Por que não buscou americanos típicos na rua, em áreas de bom poder aquisitivo? Por que não entrevistou jovens universitários? Executivos? Mulheres modernas de meia-idade?
Porque a resposta seria diferente. Porque eles conhecem vários outros aspectos do nosso país, que não combinariam com a intenção da perguntadora.
Além disso, a pergunta de Carla foi capciosa. Todos nós, quando somos solicitados a dizer o que pensamos imediatamente sobre um grupo humano, tendemos a recuperar da memória os clichês, os chavões, sobre esse grupo. Faça o teste. Pense em “ingleses”. Agora “franceses”. Agora “muçulmanos”.
Percebeu?
3. As mentiras de Carla sobre o custo da Copa do Mundo.
Carla afirma, a seguir: “A copa do mundo (sic) vai custar aproximadamente 30 bilhões de dólares. Isto é mais do que 3 últimas copas (sic) somadas juntas (sic). Elas custaram juntas (sic) aproximadamente 25 bilhões de dólares”.
Em nossa moeda, 30 bilhões de dólares equivalem a mais de 60 bilhões de reais.
Tem Google aí nos Estados Unidos, Carla? Você sabe usá-lo? Não parece. Vai daqui uma ajudinha. Acesse o Portal da Transparência (dados monitorados pela Controladoria-Geral da União):
Logo na página inicial você verá este valor:
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Clique no menu à esquerda, em Ações e Empreendimentos, Por Tema. Você verá isto (clique para ampliar):
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Repare especialmente naquele zerinho na coluna Federal, em Estádios. Bela surpresa, não? Por que você não fez essa pesquisa básica?
Estão aí as despesas específicas e o total de gastos para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. De onde você tirou a quantia absurda de mais de 60 bilhões de reais?
E quanto ao custo das três últimas Copas do Mundo? A matéria do link a seguir, exemplo do jornalismo de futurologia, cita um estudo de 2011 que alertava para a possibilidade de um gasto de 40 bilhões de reais na Copa. Previsão furada. Mas ela tem a informação que você negou aos seus espectadores, Carla.
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As últimas três Copas, elas sim, custaram 30 bilhões de dólares (e não 25, como você afirmou), mais do que o dobro do custo previsto para a Copa do Mundo a ser realizada no Brasil.
Espero que você seja mais cuidadosa na produção dos seus filmes, do que prova ser no trato das informações financeiras dessa questão.
4. As mentiras de Carla sobre a situação social do Brasil.
“Agora me diga: em um país onde o analfabetismo (sic) pode atingir 21% e é (sic) em média 10%.”
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Como fica a sua credibilidade, Carla, ante mais esse dado falso (e artificialmente jogado para cima) sobre a realidade brasileira?
“Um país que é número 85 no ranking do desenvolvimento humano e onde 13 milhões de pessoas passam fome todo dia, e onde muitas e muitas pessoas morrem esperando por tratamento médico. Esse país precisa de mais estádios?”
Como está a tendência no Brasil?
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E nos Estados Unidos?
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Como vai a questão da fome, aqui?
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Você não me parece uma pessoa muito dada a buscar a verdade completa dos fatos, Carla.
Conhece um país onde mais gente passa fome do que no Brasil?
“Fome nos Estados Unidos é tema de documentário”
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Para ilustrar a situação brasileira quanto à Saúde, Carla apresenta um vídeo de uma médica revoltada com os políticos, por causa do excesso de pacientes e da falta de pessoal.
O Brasil é um dos poucos países do mundo que dá cobertura total a todos os seus cidadãos, através do Sistema Único de Saúde (SUS). O governo federal entra com a verba, e os municípios cuidam de sua aplicação. São 136 bilhões de reais aplicados somente no SUS, a cada ano.
Vamos comparar?
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Relato de um brasileiro, no mesmo site:
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Este relato é de uma brasileira que mora nos EUA, assim como você. Mas ela parece ser mais consciente da situação real.
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Quer mais?
“Cerca de 50 milhões de pessoas não são assistidas por nenhum seguro-saúde nos EUA, um país com uma população total de mais 310 milhões, segundo os últimos registros americanos.”
“O sistema de saúde dos EUA é o mais caro do mundo e 31° melhor em cobertura e assistência à população, segundo a Organização pela Cooperação Econômica e Desenvolvimento, a OECD.”
O Brasil tem cobertura total. Ver apenas o lado negativo das situações, sem contextualizá-las e sem comparar com os dados de outros países, denota intenção prévia de depreciação.
Duvido que você usasse esses dados para falar contra uma Copa do Mundo disputada nos Estados Unidos.
Falaremos mais das verbas para a Saúde, adiante.
5. A falácia do espantalho.
“Alguns políticos argumentam que a copa do mundo (sic) é o incentivo que (sic) o nosso país precisava para ficar melhor. Espera aí, o quê? Então a gente tem pagado (sic) impostos todos esses anos… Pra que(sic)? Que país precisa de um incentivo para cuidar das suas pessoas? De repente, há todo esse dinheiro pra construir estádios e a população é levada a crer que a copa do mundo (sic) é a mudança que (sic) eles tanto precisavam pra vida deles ficar melhor.”
Que políticos, Carla? Repare que você apresenta o argumento e depois baseia sua crítica inteiramente nele, numa espécie de ouvi-dizer-e-não-gostei.
Sabe como se chama essa técnica? A falácia do espantalho. Atribui-se um argumento falso (e frágil) ao adversário (“a Copa do Mundo é o  incentivo que (sic) o nosso país precisa para ficar melhor”), e depois, com facilidade, ataca-se o argumento. Repare como você repete duas vezes o verbo “precisar”, para estabelecer essa falsa conexão.
Ninguém fez nenhuma associação entre a Copa do Mundo e a melhoria geral de vida do brasileiro. Pelo contrário, a própria conquista desse direito (sediar a Copa do Mundo) foi vista como um resultado da melhor situação do país, nacional e internacionalmente, à época da escolha. E os investimentos nacionais e estrangeiros no evento, somados ao dinheiro trazido pelos turistas, foram vistos como um fator impulsionador, a mais, desse desenvolvimento.
A propósito, esta é mais uma falácia, Carla: tomar o efeito pela causa. Google nela.
6. As mentiras de Carla sobre o faturamento da Fifa e sobre os benefícios diretos e indiretos da Copa.
“Mas a verdade é que a maior parte do dinheiro gerada pelos jogos e estádios vai direto para a FIFA. E nós nem vemos esse dinheiro.”
Até para as mentiras há limite, Carla. A menos que você queira ser vista como uma mitômana (para quem não sabe, “mitômano” é alguém que tem a compulsão de mentir). Você realmente procurou saber, antes de afirmar? Pesquisou o montante dos lucros da Fifa, para compará-lo com o retorno obtido pelo país-sede?
Sabe quanto a Fifa lucrou com a Copa do Mundo disputada na África do Sul? 5 bilhões de reais. Isso. Veja aqui (e não se pode dizer que é uma notícia favorável ao Brasil).
Vamos fazer um cálculo? Segundo estudo conjunto da Fundação Getúlio Vargas e da firma Ernst & Young…
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A Fifa leva 5 bilhões, nós levamos 142 bilhões. É jogo ou não é? Quem leva a melhor?
Mais:
“E o dinheiro que vem de turistas e investidores vai direto para as mãos daqueles que já têm dinheiro. Então sim, talvez aquele homem vendendo sorvete na praia vai ter uma semana boa, mas o evento vai mesmo mudar a vida dele?”
De novo, aquele olhar de menina superior e má, enquanto o som da batucada indica os destinatários do desprezo explícito.
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Leu o subtítulo da manchete acima, Carla? “Serão gerados 3,63 milhões de empregos.” Acho que você viu fotos, por exemplo, dos trabalhadores construindo os estádios, não viu?
Todos os benefícios diretos e indiretos da Copa, para a população, são reduzidos por você a um benefício temporário para “aquele homem vendendo sorvete na praia”. Ele, o único beneficiário brasileiro da Copa do Mundo (além dos figurões). Preciso apontar o erro lógico? Uma dica: digite “apelo ao ridículo” no Google.
Agora pense na ocupação de apartamentos, hotéis, motéis, pensões. Soube do aumento no valor do aluguel? Pense nos gastos dos turistas com os taxistas e também nos restaurantes, nos bares, nas casas de shows, nos pontos turísticos. Pense nas viagens que os turistas farão para várias cidades do Brasil. Pense nos produtos que consumirão aqui e nos serviços de que precisarão durante a estada. Sabe como se movimenta uma economia, Carla? Com dinheiro circulando.
De novo: “mas o evento vai mesmo mudar a vida dele?”. Reparou na sua exigência absurda? Você aceitaria melhorar um pouco a sua vida, em vez de mudá-la totalmente? Quem não aceitaria?
Digite “exigência de perfeição” no Google, e você achará mais uma falácia… no seu vídeo. Em síntese: se não muda por completo a vida dessa pessoa, não serve. Depois informe-se:
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Investimento se avalia em relação ao retorno. Copa do Mundo é investimento, não despesa: vale pelo retorno. Alguém aí conhece algum investimento que dê um retorno de 5 a 6 vezes o valor investido?
Outro ponto importante. Nem tudo é dinheiro na vida. Provavelmente seus avós conviveram com o trauma do Maracanazo, em 1950. Seus pais, com a lembrança dolorosa desse fato. Sua geração, com a esperança de um dia “espantar esse fantasma”. É tão vergonhoso assim eliminar um trauma cultural? Você não gostaria de dar essa satisfação a seus parentes? Pinta um pouquinho de solidariedade brasileira no seu coração, quando pensa nisso?
E a festa do povo, Carla? E a projeção internacional do país? Veja isto, um indício do que acontecerá na Copa:
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Você já se americanizou tanto, Carla, a ponto de achar que só o dinheiro tem valor nesta vida? Tudo é uma contabilidade? Money?
7. As mentiras de Carla sobre as UPPs.
“As UPPs, unidades de polícia pacificadora, estão agora entrando (sic) nas favelas e removendo criminais (sic). Agora, pra onde vocês acham que eles estão levando esses criminais (sic) e por quanto tempo eles estarão (sic) afastados? No Brasil, isso se chama botar a sujeira debaixo do tapete. É uma solução temporária pra um problema muito mais profundo”.
Percebe a imagem que você passa do nosso país, ao falar essas mentiras num vídeo, em inglês? “Agora, pra onde vocês acham que eles estão levando esses criminais (sic) e por quanto tempo eles estarão afastados?” Lugar de criminoso é na prisão, Carla, e eles ficam lá o tempo necessário para pagar a pena, segundo a lei.
Vá numa comunidade pacificada. Faça esse discurso negativista. Critique as UPPs. Diga que é uma “solução temporária”. E tenha a coragem de ouvir a reação das pessoas livres das quadrilhas de criminosos.
São 34 UPPs instaladas somente no Rio de Janeiro. Mais 40 delas até 2014.
O resultado?
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Com as UPPs chegam os serviços básicos, abrem-se lojas, bancos instalam-se pela primeira vez nessas comunidades, criam-se pontos turísticos (já viu as fotos de celebridades estrangeiras visitando esses lugares?), elimina-se o problema da Gatonet e dos gatos de luz, a vida social se civiliza (leia as matérias).
Cidadania ainda diz alguma coisa para você, Carla?
8. A associação maldosa da alma nacional com a criminalidade.
Dessa parte eu tenho até vergonha. Mas vamos lá.
“Ainda mais. O que você acha que vem com samba, festa e dança?”
Como brasileiro, vou tentar responder. Consigo pensar em alegria, congraçamento, companheirismo, papo alegre, piadas e gozações, cerveja, azaração (as mulheres brasileiras são bonitas — você é bonita por ser brasileira, não esqueça), e tantas outras atividades que combinam com a natureza alegre e festiva do brasileiro e que fazem nosso povo ser apreciado pelos estrangeiros. Aliás, em nossas festas sempre cabe mais um, e eles, em especial, são bem recebidos.
Agora você responde:
“Drogas.”
O quê?!
“E de onde você acha que essas drogas vêm? Adivinha. Os criminais (sic) não podem ficar muito longe.”
Por essa eu não esperava. Você associa “samba, festa e dança” a… drogas? Traficantes? Criminosos? Sempre?
E, vem cá, não dá para perceber um pouquinho de preconceito social nessa sua associação, Carla? Você não consegue imaginar um ambiente festivo epopular no Brasil sem drogas e sem crimes, é isso?
Procure conhecer mais sobre a falácia denominada “apelo a preconceitos”. Dê um google.
Depois resolva esse problema com a sua consciência moral. Continuemos.
9. As mentiras de Carla sobre as desapropriações.
“Tem mais. Muitas pessoas estão sendo expulsas das suas casas para dar espaço (sic) às Olimpíadas e à copa do mundo (sic), contra a vontade delas (sic). As casas estão simplesmente sendo marcadas todos os dias (sic) e sendo destruídas. É assim que está sendo feito. Essas pessoas não recebem segurança (sic), dinheiro, ou qualquer garantia, elas são simplesmente expulsas.”
Mais mentiras, Carla. Veja bem o que você escreveu: “Essas pessoas não recebem segurança (sic), dinheiro, ou qualquer garantia, elas são simplesmente expulsas“.
Jura que você pesquisou e procurou se informar? Jura que foi responsável ao divulgar essa informação para todo o mundo, falando em inglês? Se jurar, é falsa.
Há alguns problemas com as desapropriações, sim, mas em todas os cidadãos afetados recebem indenização pelo valor de mercado. Quando há conflito, o Ministério Público Federal entra em ação para defender os moradores. Bem longe, portanto, da situação de terra de ninguém que você sugere com sua descrição.
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A prefeitura fornece assistência associal às pessoas desalojadas, visando a sua adaptação ao novo lar.
Algumas desapropriações estão sendo negociadas na Justiça desde 2009.
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É absurdo espalhar irresponsavelmente para o mundo que elas são simplesmente expulsas, como se imperasse a barbárie no Brasil. Pega-se um monte de gente, despeja-se num lugar qualquer, e estamos conversados. Muitos espectadores estrangeiros do seu vídeo podem agir de forma tão irresponsável quanto você, passando adiante essa informação falsa sem procurar checar sua validade.
Nem preciso dizer que considerar alguns casos (ou seja, a exceção) como o procedimento padrão (ou seja, a regra), é um erro lógico primário.
10. O caso do Museu do Índio, no Rio.
“Índios brasileiros foram também expulsos do lugar que costumava (sic) ser a casa deles e o centro cultural indígena.
“Eles tentaram protestar, mas foram covardemente feridos por policiais com bombas, sprays de pimenta entre outras coisas (sic).
“Agora o centro cultural indígena vai ser transformado no museu do comitê olímpico (sic).
“Que tipo de democracia é essa?”
Mais uma encarada com a carinha zangada.
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Decididamente, falta apego à verdade em seus relatos, Carla. Nem mesmo a amadora Wikipédia você consulta antes de expor fatos distorcidos.
O lugar que os 18 índios ocupavam eram o antigo Museu do Índio, no Rio de Janeiro. Em 2006, 20 índios ocuparam o prédio do Museu, inativo desde 1978, e lá formaram a chamada Aldeia Maracanã.
A desocupação à força, embora autorizada pela Justiça, foi um erro do governador Sérgio Cabral, sim (criticado pela ONU). Mas não há nenhuma previsão de construção de comitê algum no lugar. A demolição visa facilitar a mobilidade na área.
E este foi o único caso de conflito com indígenas por causa da Copa. A generalização apressada (“Que tipo de democracia é essa?”) também é uma falácia clássica, sabia?
11. As mentiras de Carla sobre os estádios e o emprego.
“Agora, não me entenda mal, eu acho que a copa (sic) e as olimpíadas (sic) são eventos ótimos, mas não são o que nosso país precisa agora.”
Quem disse que a Copa e as Olimpíadas são “o que nosso país precisa agora”? Já conversamos sobre o uso desse verbo. Depois, quem decide “o que a gente precisa”, Carla? Você, que está aí nos Estados Unidos (e parece conhecer muito pouco do que acontece aqui), ou nós?
“Olhem pras outras nações que sediaram a copa (sic), olhem para os custos para os custos de manter o que a gente construiu. Milhões, milhões por mês com o nosso (sic) dinheiro público.”
No vídeo, dois exemplos de desperdício: o centro de vôlei de praia em Pequim e o estádio para softball em Atenas. Duas andorinhas não fazem verão, mas para Carla dois exemplos definem uma argumentação.
“Dinheiro público” para manter o Maracanã? A Arena da Baixada? O Estádio Beira-Rio? O Mineirão? O Estádio Fonte Nova? Fale isso para os torcedores do Rio, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador. Alguém explique a ela, por favor, o óbvio ululante.
Segue-se uma brilhante ilustração do pensamento digital, o famoso raciocínio tico-ou-teco, ou isso ou aquilo, porque os dois juntos, impossível. Em Lógica, esse artifício se denomina “falso dilema” ou “falsa dicotomia”. É uma falácia clássica.
“A gente não precisa de estádios, a gente precisa de educação. A gente não precisa que o Brasil impressione o mundo, a gente precisa que os brasileiros tenham comida e saúde. A gente não precisa de mais festas, a gente precisa de pessoas com trabalhos (sic) e vidas sustentáveis (sic).”
Um-dois, isso-ou-aquilo, tico-ou-teco. Campeonato de besteiras, Carla?
Mentes de pessoas inteligentes conseguem ir além dessa falsa dicotomia, dessa ilusória imposição de escolha entre duas opções. Ou estádios ou educação.  Ou impressionar o mundo ou comida e saúde. Ou mais festas ou “trabalhos e vidas sustentáveis (sic)”.
Falaremos de educação e saúde no próximo item.
Agora empregos.
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Enquanto isso…
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Percebeu como se faz, Carla? Tudo com fonte, nada de falar sobre o que não se sabe, nada de repetir argumentos vazios e memes desgastados.
Agora a melhor parte.
12. As mentiras de Carla sobre o uso alternativo dos recursos da Copa.
“Está provado, através dos bilhões que agora estamos gastando, que temos mais do que o suficiente para mudar nossa situação. Ou que pelo menos a gente tinha… Até a copa (sic) e as olimpíadas (sic).”
Este é o ponto. É a mesma noção equivocada reproduzida em centenas de cartazes nas manifestações. Mero resultado de uma brutal desinformação, arrogantemente exibida como exemplo de sabedoria pessoal. Vamos de novo, porque esta merece repeteco: “Está provado, através dos bilhões que agora estamos gastando, que temos mais do que o suficiente para mudar nossa situação”.
Vamos fazer umas continhas, Carla? Pegamos os 7 bilhões emprestados pelo governo federal para a construção dos estádios. Você viu aquele gráfico do Portal da Transparência, não viu? O governo federal não gastou um centavocom os novos estádios. Ele emprestou dinheiro para estados e municípios, dinheiro que voltará aos cofres públicos. Mas vamos considerar esses 7 bilhões como gasto federal.
O governo federal gasta, só com o SUS (Sistema Único de Saúde), 136 bilhões de reais por ano. Quanto dá, então? Nem um mês de SUS (equivalente a 11 bilhões de reais).
O portal UOL afirma que houve, sim, um gasto sem retorno da parte do governo federal: 1,1 bilhão de reais.
A notícia foi desmentida, com dados, pelo Palácio do Planalto (é um comportamento ético mostrar os dois lados de uma questão, viu, Carla?).
Vamos esquecer o desmentido. Digamos que o governo tenha gasto realmente 1,1 bilhão de reais, sem volta. Quanto dá? Nem o investimento detrês dias no SUS.
O.K. Agora vamos exagerar: tudo. Peguemos os 26 bilhões de reais gastos com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, fingindo que os 19 bilhões investidos em aeroportos, infraestrutura e mobilidade urbana não são úteis ao país. Quanto dá? Menos que dois meses e meio de SUS.
É esse montante que vai mudar nossa situação, Carla? É isso que vai resolver os problemas da saúde, da educação, da segurança e do transporte? É esse gasto que nos impede de resolver esses problemas agora, como você sugere em: “Ou que pelo menos a gente tinha”?.
Entendeu? Ou será que você, além de não gostar de pesquisar no Google, não se interessar pela veracidade das informações, não se preocupar em transmitir os fatos com precisão e não demonstrar apreço pela Lógica, também não sabe fazer contas?
Opa! Que burro sou eu! Esqueci que aquele total de 26 bilhões refere-se a um gasto de 7 anos (2007-2014). Quanto será mesmo o total gasto pelo governo federal somente no SUS, durante 7 anos? 910 bilhões de reais. É, realmente, agora eu me convenci: mais 26 bilhões em 7 anos (menos de 4 bilhões por ano) resolveriam todos os problemas do Brasil…
Nem tudo é dinheiro, Carla. Veja estes dados (percentual do PIB investido na educação):
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O Brasil, comparativamente, investe mais do que os Estados Unidos em educação. O problema é a qualidade do ensino. Você errou de novo o alvo. Não se trata de dinheiro.
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A propósito, sabe quanto foi o PIB nacional em 2012? R$4,4 trilhões.
Mais uma continha, então (nesta eu vou ter de pedir ajuda à calculadora do computador): 250 bilhões de reais por ano investidos na educação. É… aqui também, mais 26 bilhões em 7 anos resolveriam todos os nossos problemas…
A propósito, Carla, o seu “está provado”, que não provou nada, é… adivinha? Isso, uma falácia:  o apelo à autoridade anônima. Quem provou?
Abaixo, um meme típico da Era da Desinformação.
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13. Mais equívocos de Carla.
“…eu sei que a informação [deste vídeo] precisa ser passada e que não há vídeos suficientes, não há informação suficiente.”
Há informação suficiente, Carla. Agora, se você e outros jovens não se interessam em procurar essa informação, não se dispondo a uma simples busca no Google antes de fazer afirmações categóricas e equivocadas, de quem é a culpa?
A informação que precisa ser passada não é esse amontoado de mentiras e imprecisões do seu vídeo. São os fatos.
“E é hora da gente começar a pensar nas nossas prioridades e no que realmente importa.”
Essas prioridades já foram “pensadas” há muito tempo, Carla. Elas estão sendo praticadas. Por que você acha que o Brasil evoluiu tanto nos últimos 10 anos? Quebramos três vezes no Governo FHC, mesmo tendo vendido quase todo o patrimônio nacional. Hoje, o Brasil é credor do FMI, vive uma época de pleno emprego, tem a inflação controlada em torno de 6%, ganha destaque por suas conquistas em organismos internacionais e…
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Por que tudo isso? Porque ele definiu essas prioridades há muito: inclusão e desenvolvimento. Inclusão por meio de programas como o Bolsa Família.
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O Bolsa-Família foi adotado por México, Venezuela, Bolívia, Peru, Equador, África do Sul, Gana, Egito, Turquia, Paquistão, Bangladesh e Indonésia, entre outros países. Resultado (dessa e de outras medidas): surgiu, no Brasil, a nova classe média.
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Isso é desenvolvimento, também. E na educação?
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Inclusão também por meio das cotas sociais.
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Programas sociais melhoram a vida da população, Carla.
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Há muito mais. Basta você querer procurar.
14. A montagem do final do vídeo e a proposta irresponsável de Carla.
O final do vídeo é constrangedor: uma montagem amadora em que o discurso da presidenta Dilma, saudando os dirigentes da Fifa e mencionando avanços no país, é ilustrado tendenciosamente com cenas de pobreza, violência policial, descaso na área da saúde, criminosos presos, enchentes (!), ou seja, tudo de ruim — uma espécie de contraparte dos clichês positivos apresentados depreciativamente no início do vídeo. Nos clichês negativos, o fecho da mensagem subliminar do vídeo: O que o Brasil tem de bom não presta, e o que não presta é o que ele supostamente tem de bom.
A intenção de Carla é clara: provar que o Brasil não deveria sediar a Copa de 2014.
O.K. Vamos fingir que ela foi bem-sucedida. Você já fez um contrato, Carla? Então sabe que em todo contrato há uma cláusula relativa ao não cumprimento das obrigações. Sabia que o contrato da Copa já foi assinado, e que se o Brasil deixar de realizá-la, além de perder tudo o que iria ganhar com o torneio, terá de indenizar a Fifa, os detentores dos direitos de transmissão e os anunciantes? Já calculou quanto seria isso tudo?
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Além, obviamente, da humilhação internacional que o cancelamento geraria, e da pecha de “incompetente” que seria associada não ao Governo, Carla, mas ao povo. Não é isso que pensaríamos se a Copa fosse cancelada em outro país?
Repare como é curioso. Você afirma ser absurdo o lucro da Fifa, mas quer, com esse cancelamento, dobrar ou triplicar os lucros da entidade com a Copa de 2014… às nossas custas. Você afirma estar preocupada com os gastos do Brasil, mas sua “solução” daria um prejuízo gigantesco aos cofres públicos. Mais uma irresponsabilidade, Carla?
Sério mesmo, se há uma pessoa que tenha o mais intenso ódio ao nosso povo, dificilmente ela desejará as consequências danosas que sua proposta inevitavelmente geraria aos brasileiros.
Conclusão
Você, Carla, não contou a verdade integral em nenhuma (0%) das informações que apresentou nas argumentações de seu vídeo. Não teve sequer o cuidado de usar o Google, afirmação que posso fazer porque a maioria dos desmentidos às suas falsidades aparece na primeira página de resultados.
Repare também que em mais de 6 minutos de vídeo não há sequer umamenção positiva ao nosso país. Tudo é negativo, tudo é ruim, nada presta. Vídeo perfeito para reforçar o complexo de vira-latas de muitos brasileiros e para  incentivá-los a manifestações masoquistas de desprezo à própria pátria. Já leu os comentários no YouTube? Talvez dessa festa agressiva você goste, já que a festa bonita da nossa gente você despreza.
Quantos espectadores estrangeiros do vídeo em inglês darão crédito à sua visão pejorativa e distorcida do Brasil, porque você se apresenta como brasileira, porque você tem boa apresentação, porque você recheou o vídeo de técnicas de convencimento, porque você usou seu conhecimento profissional de edição para conseguir o melhor efeito — e porque não terão acesso ao contraditório também em inglês?
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Os investidores estrangeiros, aqueles que dependem de uma avaliação equilibrada da situação em nosso país para tomar decisões, têm opinião bem diferente da sua. Eles são obrigados a lidar com fatos.
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Qual a razão de tanto ódio pelo nosso país, Carla, ainda que travestido de preocupação bondosa com ele?
Você demonstrou que não entende nada de Brasil e do tema do vídeo. Por caridade, omitirei o meu julgamento sobre seus dotes intelectuais. Mas fico à espera de um segundo vídeo, em que, responsavelmente, você reconheça os erros que cometeu no primeiro. Prefiro crer que esses erros crassos de informação tenham sido resultado da sua natural empolgação, própria da idade. Tempo não faltou, já que você conseguiu as imagens que desejava, não é mesmo?
Agora, se não houver um segundo vídeo, Carla, serei forçado a concluir que, na verdade, esses erros não foram erros, mas enganações, e que eles foram resultado da sua má-fé.
E concluirei também que nosso país já produziu pessoas melhores.

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