Visto no iGay
 
Rafael Farias Teixeira , 26 anos, é o autor de “Entre Irmãos”, lançado pela editora Multifoco em 2012. O livro conta a história de uma família de três irmãos, Fernando, Maurício e Beatriz, que acaba se dividindo quando um deles se assume gay.
 
“Os irmãos rompem depois da declaração de Fernando, a família não aceita e eles se afastam. O único contato segue sendo a irmã, que não rejeita o irmão e passa a ser o único laço familiar”, resume o autor.
 
A crise da saída do armário é uma cena que o autor Rafael acompanhou diversas vezes, inclusive – em proporção mínima - em sua própria casa, em Salvador. Quando entrou na faculdade de Jornalismo na USP, em 2006, ele se mudou para São Paulo, e foi aí que deu vazão à sua orientação sexual.
 
 
“Salvador tem uma sociedade muito machista, meus amigos viviam enrustidos e infelizes, vir para São Paulo foi uma coisa libertadora para muitos deles. Até para mim, que tenho uma família mais aberta, o ambiente da cidade me fez entender o assunto, e me entender, de uma forma mais tranquila.”
 
Primeiro ele conversou com a mãe, depois, com mais cautela, com o pai. “Minha situação foi amena. Com minha mãe bastou uma conversa, com meu pai demorou mais tempo para ir quebrando tudo. Não teve briga, mas fui dando as informações em doses homeopáticas. A distância ajudou. O fato de eu estar longe de casa os lembrou de que sou filho deles, sob todos os aspectos.” Rafael tem um irmão e três irmãs.
 
“Quando comecei a escrever o livro, tinha acabado de descobrir minha orientação sexual e o filho gay era mais ou menos a pessoa que eu queria ser: duro, forte, corajoso, brigão, do tipo que guarda mágoa e não perdoa as agressões”, conta Rafael. “Mas, ao mesmo tempo em que é forte, Fernando é muito rígido. Acaba sendo alvo do afeto do leitor mais militante, que se identifica com ele, mas também do ódio do leitor, porque é muito inflexível.”
 
A história se passa em São Paulo, e muitos lugares da cena gay da cidade serão facilmente reconhecidos pelos frequentadores, mesmo que não sejam identificados pelo nome. Além das baladas badaladas, o livro cita o cemitério do Araçá e o extinto Cine Belas Artes. Na hora de dar o livro para sua mãe ler, Rafael ficou apreensivo. “Fiquei pensando: ai, como será minha mãe ler o livro que o filhinho dela escreveu, e as cenas de sexo?”, conta. Ela gostou, chorou, não reclamou das cenas de sexo. A única bronca de dona Mara foi: “Meu filho, precisava ter tanto palavrão?”
 
“Quando lancei o livro não tive receio de ser criticado, queria contar aquela história e contei”, diz Rafael. Depois de enviar o original para as maiores editoras nacionais, Rafael viu que estava sendo ingênuo. “Percebi que não é assim: o processo de análise dos textos é muito unilateral, você fica esperando a resposta, que muitas vezes nunca vem.” Até que veio, de uma editora pequena, a Multifoco, que produz por demanda. “Eles lançam em uma tiragem pequena, de 30 exemplares, o livro fica disponível no site da editora e da Livraria Cultura e vai sendo produzido de acordo com os pedidos que recebe”, explica. “Ela dá oportunidade para o autor iniciante e minimiza o seu próprio risco se a obra não for muito vendável.”
 
Clique aqui para ler o primeiro capítulo de "Entre Irmãos":