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quarta-feira, 17 de junho de 2015

Ucrânia e o risco apocalíptico da ignorância “noticiada”

Ucrânia e o risco apocalíptico da ignorância “noticiada”:






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16/5/2015, [*] David Swanson, OpEd News
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu



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Não posso garantir que não tenha sido publicado livro melhor, esse ano, que Uckraine: Zbig’s Grand Chessboard and How the West Was Checkmated [Ucrânia: o Grande Tabuleiro de Xadrez de Zbig, e como o ocidente recebeu xeque-mate], mas tenho certeza de que não houve livro mais importante que esse.
Das cerca de 17 mil bombas nucleares que há no mundo, EUA e Rússia possuem cerca de 16 mil. Os EUA flertam furiosamente com a 3a. Guerra Mundial, o povo norte-americano não tem nem ideia de como ou por quê, e os autores Natylie Baldwin e Kermit Heartsong explicam tudo muito claramente. Agora me digam: pode haver coisa em que vocês gastem seu tempo, mais importante que isso?
Esse livro tem boas chances de ser o mais bem concebido e escrito que li esse ano. Lá estão todos os fatos relevantes – os que eu já conhecia e muitos de que nem suspeitava – expostos de forma concisa e em perfeita ordem. E tudo isso, a partir de uma visão de mundo bem informada. Não tenho nada a reclamar, o que é novidade total em todas as resenhas de livro que escrevi em toda a minha vida. Acho estimulante e encorajador encontrar autores tão bem informados, capazes de captar a significação da informação que buscam e encontram.
Praticamente metade do livro é usada para expor o contexto em que se desenrolam os eventos recentes na Ucrânia. É útil para compreender o fim da guerra fria, o ódio irracional contra a Rússia que invadiu a elite norte-americana, e os padrões de comportamente que se repetem, dessa vez em tonalidade e volume muito mais altos.
Agitar fanáticos armados no Afeganistão e Chechênia e Geórgia, e tomar por alvo a Ucrânia para uso assemelhado: eis um contexto ‘de notícias’ que ninguém jamais encontrará na CNN.
A parceria dos neoconservadores (que armaram e provocaram a violência na Líbia) com os guerreiros “humanitários” (que acorreram para garantir a “mudança de regime”): eis um precedente e um modelo do qual a National Public Radio (NPR) não falará. A promessa que os EUA fizeram, de não expandir a OTAN para os 12 novos países bem ali, junto à fronteira russa, o afastamento dos EUA, que se separaram do Tratado Anti-Mísseis Balísticos (Tratado ABM) e a corrida para implantar “mísseis de defesa” – esse é o contexto que jamais ocorreria à rede Fox News “noticiar” como fatores ou elementos significativos.
O apoio dos EUA a governos de oligarcas criminosos, dispostos a vender recursos do povo russo, e a resistência do governo russo contra esses ardis – aí estão relatos já quase incompreensíveis, se você é consumidor de muitas “notícias” e de “noticiosos” “jornalísticos”. Mas lá estão, no livro, explicados e bem documentados por Baldwin e Heartsong.
O livro inclui excelente contextualização para que se avaliem usos e abusos das lições de Gene Sharp e as “revoluções coloridas” instigadas pelo governo dos EUA. Arremate final é, me parece, tantos aí, na mídia e pelo mundo, sempre a reconhecer e pregar a importância da ação não violenta, para o bem ou para o mal. A mesma lição lá está também (dessa vez para o bem) na resistência civil às tropas ucranianas na primavera de 2014, e na atitude de (alguns) soldados que se recusaram a atirar contra civis.



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Revolução Rosa (Georgia - 2003)


A Revolução Laranja na Ucrânia em 2004, a Revolução Rosa na Geórgia em 2003, e Ucrânia II em 2013-2014 são todas bem claramente recontadas, incluindo cronologia detalhada. É realmente impressionante a quantidade de informação que nós, norte-americanos médios (e eleitores voluntários) ignoramos completa e absolutamente.
Líderes ocidentais reuniram-se repetidas vezes em 2012 e 2013, planejando o golpe contra a Ucrânia. Neonazistas ucranianos foram enviados à Polônia para cursos intensivos de golpe contra um estado democrático. ONGs e mais ONGs, que operavam a partir da embaixada dos EUA em Kiev organizaram “seminários” para treinamento de golpistas.
Dia 24/11/2013, três dias depois de a Ucrânia ter recusado um acordo com o FMI, que incluía recusar-se a romper relações com a Rússia, os manifestantes começaram a enfrentar a polícia em Kiev. Os manifestantes agiram sempre com violência, destruíram prédios e monumentos, lançaram coquetéis Molotov, mas o presidente Obama ordenou ao Presidente da Ucrânia que não reagisse com excessiva força. (Que impressionante contraste com o tratamento que Obama ordenou contra o Movimento Occupy! Ou os tiros, numa rua próxima do Senado dos EUA, contra uma mãe que fez uma curva abrupta com seu carro, onde levava o filho bebê, e que pareceu “ameaçadora” aos policiais).
Grupos financiados pelos EUA organizaram uma “oposição” na Ucrânia, fundaram um canal de TV e promoveram a “mudança de regime”, vale dizer, o golpe. O Departamento de Estado dos EUA gastou coisa de US$ 5 bilhões. A Secretária de Estado Assistente, que escolheu e elegeu, só ela, os novos governantes da Ucrânia, levou sanduíches e bolinhos para os golpistas em plena praça.
Quando aqueles mesmos golpistas da praça derrubaram o governo da Ucrânia, em fevereiro de 2014, os EUA imediatamente declararam legítimo o governo dos golpistas. Aquele novo governo extinguiu os partidos políticos, atacou, torturou e assassinou membros dos partidos depostos pelo golpe. O novo governo incluiu neonazistas desde o primeiro dia, e pouco depois passou a incluir também funcionários importados dos EUA.
O novo governo proibiu o idioma russo – primeira língua de muitos cidadãos ucranianos. Monumentos e memoriais russos foram destruídos. Populações falantes de russo foram atacadas e assassinadas.
A Crimeia, região autônoma da Ucrânia, com Parlamento próprio, foi parte da Rússia de 1783 até 1954, e votou publicamente a favor da manutenção dos laços com a Rússia em 1991, 1994 e 2008, e o Parlamento da Ucrânia votou a reincorporação à Rússia em 2008. Dia 16/3/2014, 82% dos crimeanos participaram de um Referendum, no qual 96% deles se manifestaram a favor de a Crimeia ser reintegrada à Rússia.
Essa ação não violenta, sem sangue, democrática e legal, que não violou nem a Constituição nem qualquer outra lei ucraniana, e que foi atacada por violento golpe de Estado... é o que o “ocidente” vive de “denunciar”, como se fosse alguma “invasão da Crimeia” pelos russos.



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Resultado final do referendum na Crimeia


ATUALIZAÇÃO: Na mais recente reunião do G7, a Rússia foi alvo da retórica mais ensandecida. O presidente dos EUA, Barack Obama, perguntou, sobre o presidente da Rússia, Vladimir Putin: “Será que ele continua a destroçar a economia de seu país e a manter o isolamento da Rússia, movido por um super orientado desejo de recriar as glórias do império soviético?” (12-14/6/2015, Counterpunch, Vijay Prashad, em redecastorphoto, G7: Moedas a proteger, países a bombardear, traduzido).
Novorrussos, que tentaram tornar-se independentes, foram também atacados por militares ucranianos, um dia depois de John Brennan visitar Kiev e ordenar aquele crime.
Sei que a Polícia do Condado de Fairfax, que nos manteve, eu e meus amigos, bem longe da casa de John Brennan na Virginia não sabiam nem uma linha do inferno que aquele homem havia lançado sobre gente inocente, a milhares de quilômetros dali. Mas tamanha ignorância é, no mínimo, tão perturbadora quanto qualquer ativa má intenção criminosa.
Civis foram atacados por aviões e helicópteros de guerra durante meses, na mais terrível matança, como nunca mais se vira na Europa desde a 2a. Guerra Mundial. O presidente Vladimir Putin da Rússia repetidamente clamou por paz, por uma trégua, por um cessar-fogo, por negociações. Até que, finalmente, dia 5/9/2014, assinou-se um acordo de cessar-fogo.
Chama a atenção, na direção diametralmente oposta do que recebemos como “notícias”, que a Rússia não invadiu a Ucrânia em nenhuma das inúmeras vezes que os “noticiários” “informaram” que teria invadido. Somos pós-graduados em armas inventadas de destruição em massa, em ameaças míticas contra os cidadãos líbios, em acusações falsas de uso de armas químicas na Síria... Agora estamos sendo adestrados a acreditar em invasões que jamais aconteceram.
A “prova” da tal invasão foi cuidadosamente perdida em local incerto e não sabido, sem qualquer detalhe que a identificasse, caso alguém tropeçasse nela. Pois mesmo assim a farsa foi desmascarada.


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Cabine do MH-17 metralhada por caça  Su-25 da FA "ukie"

O avião que fazia o voo MH17 foi derrubado: a culpa é da Rússia, mesmo sem provas. E, pior, mesmo contra todas as provas que adiante se exibiram. Os EUA sempre souberam exatamente o que aconteceu. Mas não divulgaram a informação que tinham. A Rússia distribuiu o que tinha e provou, comprovado pelo depoimento de testemunhas em terra e pelos depoimentos dos controladores de voo, que o avião foi derrubado por um ou mais outros aviões. As “provas” de que a Rússia teria derrubado o avião foram expostas como grosseiras falsificações: ninguém em terra jamais viu a trilha de fumaça no céu que o tal míssil russo, se existisse, teria deixado.
Os autores Baldwin e Heartsong concluem seu trabalho com detalhada argumentação para demonstrar que as ações dos EUA recaíram sobre os próprios EUA, que a única verdade é que os cidadãos norte-americanos não têm nem qualquer mínima ideia do que acontece ou deixa de acontecer, que os donos do poder em Washington usam a Segunda Emenda como se fosse direito deles, contra todo o mundo. Sanções contra a Rússia tornaram Putin tão popular na Rússia quanto George W. Bush depois que deu jeito de parecer presidente de alguma coisa, enquanto aviões derrubavam arranha-céus no coração de New York. As mesmas sanções fortaleceram a Rússia, empurrando-a para aumentar a produção interna e para alianças com nações não controladas pelos EUA. A Ucrânia sofreu e a Europa está sofrendo com o corte no fornecimento de gás russo, enquanto a Rússia faz negócios com Turquia, Irã e China. Expulsar a base naval russa da Crimeia é delírio mais sem futuro hoje, do que antes de essa loucura ter começado.
A Rússia lidera o movimento pelo qual mais e mais nações preparam-se para abandonar o dólar norte-americano. Sanções retaliatórias da Rússia, atingem já o “ocidente”. Longe de estar isolada (como delira o presidente Obama, dentre outros), a Rússia está trabalhando com países BRICS, na Organização de Cooperação de Xangai e em outras alianças. Sem dar sinal algum de “empobrecimento” (como nos delírios do presidente Obama, dentre outros), a Rússia está comprando ouro, enquanto os EUA afundam-se cada dia mais em dívidas e desemprego, e sempre, cada dia mais, vistos pelos cidadãos do mundo como agente incapaz de jogar limpo, como jogador-bandido; e já detestados também na Europa, porque os EUA privaram os europeus do comércio com a Rússia.



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BRICS - Brasil, Rússia, Ìndia, China, África do Sul


Essa história começa na irracionalidade do trauma coletivo depois do holocausto da 2a. Guerra Mundial, e do ódio cego contra a Rússia. Talvez também termine na mesma absoluta irracionalidade. Se o desespero dos EUA levar o país a guerra contra a Rússia, na Ucrânia ou onde for, em algum ponto da fronteira russa, onde a OTAN vive de joguinhos de guerra e provocações, é possível que essa história, do enlouquecimento dos EUA, seja a última narrativa que a humanidade ouviu sobre ela mesma.
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[*] David Swanson é o autor de When the World Outlawed War, War Is A Lie e Daybreak: Undoing the Imperial Presidency and Forming a More Perfect Union (todos sem tradução para português). Anima 2 blogs: (http://davidswanson.org e http://warisacrime.org). 
Trabalha para a organização ativista on-line http://rootsaction.org.
POSTADO POR CASTOR FILHO

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