Dora: Barbosa presidente é só uma miragem
Colunista argumenta que presidente do
STF não reúne condições objetivas para se candidatar, o que não
significa que ele "não seja objeto de desejo do mundo político"; vice de
Aécio?
247 - Não
há, no Brasil de hoje, condições reais para que Joaquim Barbosa,
presidente do Supremo Tribunal Federal, seja candidato à presidência da
República. Mas seu apoio é valioso. Quem argumenta é a jornalista Dora
Kramer. (Detalhe: no último domingo, Barbosa e o senador Aécio Neves se
reuniram, o que alimentou especulações sobre uma eventual composição)
Leia abaixo:
A inclusão do nome do
presidente do Supremo Tribunal Federal na lista das 100 pessoas mais
influentes do mundo escolhidas pela revista americana Time reabriu a
série de homenagens a Joaquim Barbosa, bem como a temporada de
especulações sobre a possibilidade de uma candidatura à Presidência da
República em 2014.
Em princípio, o quesito
"condições objetivas" inscreve essa hipótese eleitoral na seara das
miragens, para não dizer das simplificações impensadas. A eleição é
"casada", de deputado estadual a presidente, passando pelas disputas à
Câmara, ao Senado e aos governos dos Estados. Dependente, portanto, de
estrutura partidária ou, como no caso do PSB, de coligações
substantivas.
Barbosa não tem partido e
os que detêm as condições acima expostas já têm candidatos. Nenhum
deles estaria disposto a ceder seus espaços. Muito menos a alguém tão
impermeável às transações típicas do modelo de governo lastreado em
fisiologismo.
Difícil imaginar Joaquim
Barbosa numa roda de discussão sobre o toma lá dá cá. Seria o "defeito"
da qualidade que poderia fazer dele um excelente candidato em cenário
(infelizmente?) fictício no cotejo com a realidade política.
Uma eleição é algo mais
complexo que a comunhão de vontades, senso de oportunidade e construções
hipotéticas. Em 1989, quando Fernando Collor decolou a bordo de um PRN
inexistente, a eleição era "solteira"; só para presidente, podendo se
dar em torno de uma personalidade.
Pela norma vigente,
partidos precisam eleger o maior número possível de deputados para que
tenham influência no Congresso e, com isso, mereçam a atenção do
Executivo; prefeitos precisam "ter" parlamentares que defendam seus
interesses em Brasília e, em troca, trabalham pela permanência deles no
Congresso.
A dinâmica desenhada de
maneira resumida é essa, e nela não se incorporam com suavidade fatores
exógenos. Uma eventual candidatura do presidente do Supremo a presidente
da República por esse critério se enquadra no terreno nas
excentricidades.
O que não quer dizer que
Joaquim Barbosa não seja objeto do desejo no mundo político. É, mas não
como concorrente. Seu apoio seria algo extremamente bem recebido por
qualquer candidato.
Sendo praticamente
impossível obtê-lo de forma explícita, os políticos provavelmente o
buscarão de maneira implícita, procurando estabelecer algum tipo de
identificação com a pessoa ou com os valores representados por Barbosa.
Se vão conseguir são
outros quinhentos. Pertencentes a uma história a ser contada de acordo
com os parâmetros impostos pelo presidente do STF ao manejo político do
simbolismo de austeridade moral que transmite à opinião pública.
Uva verde.
Nas "internas" do governo e cada vez mais nas "externas" do PT, já se
usa a expressão "bolha" em relação à possível candidatura de Eduardo
Campos à Presidência. Emprestada da economia com o significado de
inconsistência, o vocábulo tem o sentido de desqualificar a recepção
positiva que o governador de Pernambuco vem tendo entre políticos e
empresários.
Nome do jogo.
O mote do discurso de campanha da oposição por ora é "inflação de
alimentos". O senador Aécio Neves encaixa as três palavras em cada cinco
de dez frases que fala sobre seus planos de construção da candidatura
presidencial pelo PSDB.
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