Newsweek_Obama
Uma das últimas edições impressas da Newsweek, no final do ano passado.
O melancólico final da Newsweek.
Paulo Nogueira em seu Diário do Centro da Terra
Nada mostra tão bem o declínio das revistas semanais quanto a agonia da Newsweek, que durante décadas foi a influente e admirada número 2 do mundo, com uma circulação de 3 milhões de exemplares.
Na redação da Veja, nos anos de 1980, a Newsweek e a líder Time eram acompanhadas com rigor e com devoção pelos jornalistas, incluído eu em meu começo de carreira. Nesta semana, soube-se que, mais uma vez, ela está à venda. Só que ninguém quer comprar os restos mortais.
A Newsweek foi virando pó com a ascensão da internet. Foi perdendo leitores, anunciantes, repercussão e, finalmente, razão de ser. Já nos estertores, passou do grupo que controla o Washington Post para as mãos da editora Tina Brown, que comandava então o site Daily Beast. As duas marcas ficaram sob a órbita de Tina.
No final do ano passado, a edição impressa deixou de circular. Se não fosse o aviso, ninguém teria notado, tão irrelevante já tinha ficado a revista na era digital. Agora, o site foi posto à venda. A empresa quer se dedicar à marca Daily Beast.
É difícil imaginar que apareça candidato. No New York Times, alguém notou, melancolicamente, que não é uma revista à venda, com jornalistas: é apenas uma marca. E uma marca de um passado longínquo. O caso da Newsweek não mostra apenas quanto a internet destruiu a indústria tradicional de mídia. (Há pouco tempo, a Time Warner tentou se desfazer de sua divisão de revistas, mas não encontrou quem quisesse comprar.)
A agonia da Newsweek revela, também, um fato duro para as companhias jornalísticas: as grandes marcas do papel não transferem seu prestígio para a internet. Não surpreende que a empresa prefira se concentrar no Daily Beast e não na Newsweek.
No Brasil, o quadro é o mesmo, com o natural atraso de alguns anos que caracteriza a mídia nacional em relação à norte-americana e à europeia.
A principal revista brasileira, a Veja, é uma sombra do que foi. Os esforços extraordinários para manter a circulação em 1 milhão – a mesma em 20 anos – não têm impedido uma queda calculada em 4% ao ano.
Tenho para mim que o fim iminente e inevitável das revistas semanais de informação amargurou enormemente Roberto Civita em seus últimos anos.
Tenho para mim, também, que parte dos excessos da revista se deveu a uma desesperada tentativa de manter a relevância a qualquer preço. O fato é que a internet vai transformando rapidamente as demais mídias em defuntos.
A próxima parada, liquidados jornais e revistas, é a televisão. O futuro da tevê está na Netflix, no YouTube e na Amazon, que vai produzir conteúdo em vídeo. Marcas tradicionais – a Globo no Brasil – vão enfrentar um processo parecido com o que vitimou a Newsweek e tantos outros títulos nobres da era do papel.
A Globo só consegue manter a receita publicitária – sem a qual não é nada – graças ao expediente do BV, o Bônus por Volume, que acorrenta a ela as agências de publicidade. Mas o grilhão só se explica com audiências monstruosas. Porque é o terror de perder essas audiências – com um boicote da Globo – que faz os anunciantes aceitarem uma coisa tão ruim para eles.
Sem grandes audiências, a amarra se vai. Os anunciantes se despedirão da Globo (e do BV abominado) e vão buscar seus consumidores onde eles estão: na internet. Não no Faustão, não no Fantástico, não nas novelas.
A internet vai fazer com a Globo o que governo nenhum conseguiu fazer: acabar com o monopólio. Pela via da desaparição de espectadores.