Mas será que ela tem realmente algum significado político? Nenhum.
Quem esteve no Estádio Nacional Mané Garrincha neste sábado pôde se dar conta de que a vaia contra Dilma foi quase acidental. Ela começou quando os alto-falantes anunciaram a presença do presidente da Fifa, Joseph Blatter. Dilma foi anunciada na sequência, pegando carona nas vaias a Blatter - que também eram inadequadas. Diante do barulho, ela pronunciou apenas uma frase: "Declaro oficialmente aberta a Copa das Confederações". Blatter lamentou o incidente e pediu "fair play" ao povo brasileiro, quando foi novamente vaiado.
No Uol, Josias de Souza foi o primeiro colunista a comentar as vaias e sugeriu que a torcida talvez estivesse repleta de "Velhos do Restelo", ironizando a presidente Dilma:
Até o desafeto José Maria Marin, da CBF, tentou salvar a cena puxando uma salva depalmas. Os apupos prevaleceram. Bons tempos aqueles em que o futebol era o ópio do povo. Hoje, gasta-se R$ 1,2 bilhão num estádio para que ele seja usado como amplificador do pio do povo. Quanta ingratidão! O Planalto deveria considerar a hipótese de trocar a torcida brasileira por torcedores terceirizados vindos da Suíça de Blatter. São pessoas muito mais respeitosas. E que fair play!
Mas quem estava realmente no Mané Garrincha? Não exatamente um retrato do povo brasileiro. Ali havia dois tipos de torcedores. Os que se dispuseram a pagar R$ 280 por uma entrada e aqueles que foram convidados por patrocinadores ou parceiros da festa, que adquiriram ingressos junto à Fifa e os distribuíram a convidados vip. Em ambos os casos, representantes da elite.
Não exatamente o povo que se incomoda com a chamada inflação dos alimentos ou a alta de vinte centavos nas passagens de ônibus.
A despeito da vaia, quem foi o Mané Garrincha também se deu conta de que, pela primeira vez, o Brasil dispõe de equipamentos esportivos comparáveis aos do invejado Primeiro Mundo. A arena de Brasília nada deve aos melhores estádios do mundo - e, em muitos aspectos, os supera. O trabalho dos voluntários, que demonstraram extrema cortesia, foi também exemplar.
Quem foi ao estádio também pôde presenciar o renascimento da seleção brasileira e saiu com a certeza de que, aos poucos, o técnico Luiz Felipe Scolari, o Felipão, faz brotar um time que tem tudo para ser vencedor.
Além disso, a chegada e a saída do estádio foram tranquilas, salvo um pequeno incidente com manifestantes que protestavam contra a realização da Copa, provando que Brasília, com seus espaços amplos, talvez seja a melhor sede da Copa e a mais adequada até para a abertura em 2014.
Numa festa grandiosa, não só pela seleção, mas pela própria estreia bem-sucedida da arena e de uma das principais sedes, a vaia foi apenas um "ponto fora da curva", para usar uma expressão em voga atualmente.
Foi o retrato da irreverência, da deselegância e até da falta de educação de boa parte da elite brasileira.
Paciência. Brasília deu a primeira demonstração de que, em 2014, o Brasil realizará uma das melhores Copas do Mundo de todos os tempos. E com uma equipe à altura.