Hamilton de Holanda, exímio bandolinista brasileiro, vem sucessivamente atingindo os ápices da música contemporânea brasileira instrumental. Uma de suas últimas grandes referências é o álbum “Brasilianos 3”, lançado no final do ano passado (2011). Hamilton não é apenas o que chamamos de instrumentista e compositor; Hamilton vai além; É um criador. Reinventando a forma de tocar bandolim, cria também um novo instrumento, que transgride as formas comuns e conhecidas, para compor uma nova música e uma nova história. Vamos a ela nesta entrevista realizada pelo Blog Música Contemporânea.



-- Hamilton, você considera que já tenha atingido alguma espécie de maturidade por seus 30 anos de carreira musical? É necessário um longo período de maturação da forma de tocar para maximizar a criatividade e chegar ao que chamamos de estilo?

Com certeza me sinto mais maduro hoje do que 10 anos atrás. O tempo moldou o meu estilo musical e a minha pessoa. Acontece que estou sempre buscando o que gosto de fazer, de criar, através de shows, discos, parcerias, viagens, no dia a dia com a família e os amigos, para conseguir sintetizar todas essas informações e ter um resultado artístico fluente e verdadeiro. Com o tempo, você aprende a peneirar aquilo que pode somar e deixar pra lá aquilo que atrapalha.



-- Li em uma recente entrevista no qual você diz algo sobre a importância da intimidade com o instrumento. O quanto desta intimidade é fruto de uma crescente intimidade consigo mesmo? O caminho em direção a fraseados mais simples é realizado pensando nisso ou é apenas uma consequência da exploração musical e interior?

O importante nesta questão é a soma da técnica com o sentimento. Quanto mais intimidade técnica você tem com o instrumento, fica mais fácil você expressar suas ideias e sentimentos. Sobre a intimidade comigo mesmo que você cita na questão, já fico sozinho o bastante em quartos de hotel. Gosto mesmo é de estar entre amigos, com a família. A solidão é importante, mas não é o que mais gosto. Não faço música só pra mim, faço pra me encontrar com as pessoas.

-- No trabalho em grupo, a aproximação entre os músicos contribui para suas composições?

Eu acho que sim. Nos meus trabalhos, isso faz diferença. Já vi grupos tocarem muito bem e depois descobri que não havia nenhuma ligação afetiva entre os músicos. Isso existe; não no meu caso.

-- Existe alguma diferença no approach/abordagem quando se mudam as formações da banda? O álbum “Brasilianos 3” tem diferenças em relação aos trabalhos anteriores?

Existem duas diferenças: a personalidade de cada músico influencia diretamente no resultado do trabalho, e claro, que tipo de instrumento cada um toca. Minhas decisões na hora de fazer um trabalho são tomadas em função dessas variantes, sempre buscando o máximo que pode ser feito por cada um e por cada instrumento, respeitando e trabalhando lado a lado com as peculiaridades de cada um.

-- A reinvenção na sua forma de tocar bandolim influenciou a forma como compõe?

Influenciou completamente. Eu sempre faço algo que tenha um sentido musical, que passe por acordes e ritmos que possam emocionar o ouvinte, o espectador, mas sempre com um toque do desafio, de encontrar algo que ainda não fiz. Nesse último ano tenho pensado também como contribuir mais ativamente para a evolução do bandolim, então tenho composto música-estudo. Fiz uma série de Caprichos, inspirado em Paganini. Músicas que, além de músicas, são estudos, e se eu não disser que são estudos, as pessoas nem vão perceber.

-- Você cita como influências suas desde grandes músicos até pintores e escritores. Como essas artes e artistas influenciam sua obra?

Na verdade, qualquer acontecimento da vida me influencia, a antena está ligada 24 horas por dia. Vejo um quadro e me transporto, o mesmo acontece com um filme, um livro. É muito bom compor após o impacto que uma obra causa em minha mente, em meu coração. É uma maneira de me comunicar com a alma das pessoas.

-- Quais direções você acha que se encaminhará sua vida e os próximos trabalhos?

Também gostaria de ter essa resposta, mas minha bola de cristal é muito turva, não consigo ver com precisão o meu futuro. E gosto que seja assim. Quando decidi ser músico profissional, sabia que seria assim, cada dia uma nova história, e todas elas interligadas com o passado e com o futuro. O que me resta é viver e agradecer.

-- Qual limitação mais te ensinou e te levou mais longe na sua vida de músico?

Tocar bandolim!



Vídeo com Hamilton de Holanda:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=vGfXYGFSgsk - Hamilton de Holanda Quinteto - Saudade do Rio (H. de Holanda) - Instrumental SESC Brasil



Entrevista realizada por Caio Garrido