Se formos perguntar às categorias, o corporativismo fala mais alto. E não é só a dos médicos. Portanto, discurso corporativista do médico é igual ao do político. Nem a máfia faz diferente. A razão não comparece com medo de dar vexame em público.
Quando a questão é saúde, por que não vale a opinião do paciente? Se o médico, para receitar, vai pedir  raio X e/ou exame sangue por que não pode pedir a opinião dos pacientes a respeito da vinda de médicos do exterior para atender onde hoje eles não querem ir? Dos pacientes que hoje não tem acesso à médicos!
O acamado lá no interior de Cacimbinhas está preocupado com a estrutura hospitalar ou acesso a um profissional de saúde que pudesse prestar as primeiras informações? Se estrutura fosse condicionante, não haveria médico de família.
O que me espanta nesta questão dos médicos é que há muito doutor em rebimboca da parafuseta mas nenhuma palavra na linha da ética médica. Ao que parece, pelos cartazes e vozes que se levantam na internet, a formação humanística tem medo dos bisturis. Cortar na carne dos outros parece até prazeroso. É evidente que o lado mais sensível do ser humano continua sendo o bolso. Os médicos brasileiros ao levarem à rua seus discursos doentios estando explicitando conceitos mercantilistas que eram de domínio público mais cheirava à inveja. Hoje a população tem a respeito da categoria médica mais elementos que confirmam, não só o mercantilismo mais retrógrado, mas, pelo nível das manifestações de rua, um desequilíbrio emocial evidente.
Talvez o Brasil, de fato, precise importar não só médicos para a população desassistida, mas também psiquiatras para médicos e professores de ética e humanismo para não aparecem nus em público…
Até aqui, pelo que tenho lido, o diagnóstico indica degenerescência prematura da uma boa parte da classe médica. Verifico que ainda precisam aprender viabilizar receita de boa educação.  Falece-lhes, por contaminação monetária, a saúde da ética mais elementar.
Quem tergiversa pela falta de estrutura nunca esteve com problema de saúde sem poder consultar, por falta de acesso geográfico, um médico.
Médico de Dilma reforça coro contra vinda de estrangeiros
Kalil Filho diz ser ‘terminantemente’ contrário a programa lançado por governo
Não adianta jogar profissional importado em hospitais do interior se não existe estrutura, afirma cardiologista
CATIA SEABRANATUZA NERYDE BRASÍLIA
Em pelo menos um ponto a presidente Dilma Rousseff não seguiu as recomendações de seu cardiologista: a "importação" de médicos estrangeiros para o Brasil.
Médico de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o cardiologista Roberto Kalil Filho se opõe à contratação de estrangeiros para atendimento em hospitais no interior do Brasil.
"Sou terminantemente contra", diz Kalil.
Segundo ele, o maior problema da transferência de médicos para regiões distantes está na falta de condições de trabalho. Em alguns casos, afirma, o profissional "não tem nem acomodação".
"Não adianta jogar os médicos [num hospital] se não houver estrutura. O médico pode ser da China, da Lua. Se não tiver seringa, se não tiver raio x, ele não vai conseguir atender ao paciente", diz.
Dilma oficializou anteontem um programa para fixar médicos no interior do país e nas periferias. Na falta de interessados brasileiros, serão abertas vagas para estrangeiros. Entidades médicas criticam a proposta, defendendo melhoria de estrutura na rede e a criação de uma carreira federal do médico.
Embora reconheça que a priorização de brasileiros atenue suas críticas, Kalil afirma que existem "outros caminhos para melhorar o atendimento" do SUS.
"Se os governos não conseguem há 30 anos melhorar as condições de trabalho, não é mandando médico para o extremo norte que vão resolver o problema", afirmou.
Segundo Kalil, a temporariedade da contratação e a garantia de que os estrangeiros não poderão ser transferidos amenizam sua resistência –por não tirar "emprego do médico brasileiro".
Citando reportagens que mostram falta de médicos em hospitais bem equipados, Kalil até reconhece que, em alguns casos, é necessário enviar médicos para lugares onde exista rede hospitalar.
Mas acrescenta que esse não é o cenário na maior parte da rede pública.
Kalil conta já ter manifestado sua contrariedade para o ministro Alexandre Padilha (Saúde). A Folha apurou que ele chegou a participar de pelo menos uma reunião com a própria presidente Dilma para discussão do modelo.
Seu papel, segundo integrantes do governo, foi estabelecer canal de interlocução com representantes médicos contrários ao programa.
Ao longo da negociação, o governo admitiu alterações no projeto, como a regra que prioriza a opção por médicos brasileiros. Essas mudanças, no entanto, não contemplaram as entidades médicas.
Kalil é doutor e professor livre-docente pela USP com especialização nos EUA. Ocupa atualmente a direção do centro de cardiologia do Hospital Sírio-Libanês. Eles não quis comentar a exigência para que alunos de medicina trabalhem dois anos no SUS.

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